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'Entrando pelo Cano': os cinco principais erros do Vasco e a tendência da Série B

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|  Foto: Foto: Reprodução
Germán Cano como o retrato do Vasco: desolado e cabisbaixo. Foto: Reprodução

O Vasco decepcionou sua torcida mais uma vez neste domingo (7). O Cruzmaltino sequer ofereceu alguma resistência e foi humilhado pelo Botafogo em pleno São Januário, perdendo por 4 a 0. O duro golpe aconteceu logo na rodada seguinte à derrota para o Guarani, quando desperdiçou um pênalti e viu o adversário marcar o gol da vitória logo em seguida, na última quinta-feira (4).

Ao contrário do que o presidente Jorge Salgado deu a entender em sua coletiva, a tragédia não é consequência da falta de sorte; o clube tem, sim, uma lista de erros cruciais para não ter voltado à elite do futebol brasileiro. E mudar esta mentalidade retrógrada é apenas o primeiro passo para uma mentalidade vencedora e profissional.

Algumas das causas sobressaem às outras:

1) Montagem do elenco e muitos medalhões

Embora endeusado por boa parte dos torcedores, o diretor de futebol Alexandre Pássaro apelou para a solução mais óbvia em clubes grandes e rebaixados: contratar medalhões. As figuras carimbadas, mesmo que longe do bom desempenho de outrora, deram uma falsa impressão de que o elenco encorparia e daria conta da missão de devolver o Vasco à Série A.

Vanderlei, Leandro Castán, Zeca, Rômulo, Marquinhos Gabriel, Ernando, Leo Matos... mas, quando o bicho pegou, foram os jovens que precisaram entrar em ação. Galarza, Riquelme, Gabriel Pec e até mesmo o irregular Lucão é que deram a cara para bater. O único experiente que fez real diferença foi Nenê - mas ele chegou tarde demais para salvar a pátria.

Além disso, o clube não soube explorar suas principais virtudes. Por exemplo: quem municia o bom centroavante Germán Cano? Com apenas um meia armador no elenco, o argentino dependia da boa vontade de Marquinhos Gabriel. Além disso, o Vasco não possui nenhum lateral que tenha facilidade em utilizar a linha de fundo.

2) Mudanças de técnico

Se quer medir a capacidade de um time em estragar a temporada, basta ver quantas vezes trocas de técnico foram feitas. O Cruzmaltino colecionou Vanderlei Luxemburgo, Marcelo Cabo, Lisca Doido e Fernando Diniz desde janeiro. Nomes com características de jogo e trabalho absolutamente diferentes uns dos outros - o que mostra como a direção está completamente perdida.

Além disso, a escolha derradeira é absolutamente questionável. Não se pode contratar um treinador que nunca se firmou entre os principais para solucionar uma crise do tamanho da que o Vasco passa atualmente. Fernando Diniz busca o diferente e tem propostas excelentes de jogo, mas nunca conseguiu colocar em prática. Seu aproveitamento em grandes clubes é baixíssimo. E tudo isso foi ignorado pelo clube na hora da bala de prata.

O Vasco é o clube que mais troca de técnicos no Século XXI. São 47 trocas e 31 nomes envolvidos.

3 - Germán Cano 'pipoqueiro'

É indiscutível a qualidade de finalização do centroavante vascaíno. No entanto, também é inegável a sua 'trava' em momentos decisivos na marca do cal. Contra o Internacional, ainda na Série A, Germán Cano desperdiçou um pênalti que praticamente decretou o rebaixamento cruzmaltino. Já na Série B, ele perdeu diante do Brasil de Pelotas, em São Januário, em um dos vários tropeços do clube em casa.

O principal nome do elenco tem que assumir a bronca. Botar a bola debaixo do braço e resolver. Cano não faz isso - apesar de não ser um mau jogador. Mas o Vasco merece - e precisa de - mais. Alguém que vista a camisa para valer e tenha a capacidade de decidir jogos. Apesar da boa fase, Nenê também não deve ser esse nome; o "vovô" também desperdiçou uma cobrança de pênalti na derrota para o Sampaio Corrêa.

4) Empáfia dos torcedores na internet

Quem tem o costume de utilizar as redes sociais pôde acompanhar o comportamento da torcida cruzmaltina nas redes sociais. Tendo o rival Botafogo como parâmetro, os vascaínos passaram praticamente toda a temporada desdenhando do co-irmão e protagonizaram diversos memes na internet. Alguns alegaram que "os jogadores do Vasco tirariam mais fotos no shopping", por exemplo.

https://twitter.com/diegocrvg95/status/1434312050323476480

A postagem acima virou quase um mantra para os alvinegros ao passo que o Botafogo disparava na classificação e o Vasco ficava para trás. A empáfia, a soberba, a cabeça em pé demais fez com que o Cruzmaltino não olhasse para a própria barriga. Aí o problema é enorme. Quando despertaram para a realidade, a vaca já havia deitado.

5) Picuinhas políticas e falta de planejamento profissional

O sucesso do campo começa do lado de fora do gramado. E o Vasco, se é uma bagunça dentro das quatro linhas, consegue ser ainda pior fora delas. O clube vive imerso em brigas políticas, acusações e baixo nível. Desde Eurico Miranda, o Cruzmaltino é quase um sistema feudal. É difícil levar a sério o sistema eleitoral de São Januário.

Jorge Salgado, atual presidente, assim como todos os seus antecessores, ainda se comporta como o antigo cartola brasileiro. Antiquado, ultrapassado, obsoleto e pouquíssimo antenado nas mudanças do mundo da bola. Esse tipo de dirigente ainda domina o cenário nacional e vive de bravatas, promessas falsas e, consequentemente, péssimos mandatos. É disso que o clube precisa se livrar o quanto antes.

A título de comparação, o Botafogo, que organizou minimamente a casa e deu, ainda que timidamente, seus primeiros passos (ou melhor, engatinhadas) rumo à profissionalização, já começou a colher os resultados. O primeiro deles, importantíssimo, é a volta à Primeira Divisão - algo que só deixará de acontecer em General Severiano diante de uma enorme catástrofe.

É preciso mudar totalmente a mentalidade do Vasco. Renovar, mudar os ares, deixar para trás aquele amadorismo entranhado do futebol brasileiro. Falar é fácil, claro. Mas é preciso que alguém arregace as mangas e tenha coragem suficiente para fazer o necessário. E isso passa por, em alguns momentos, desagradar a torcida. É o que faz a figura de Jorge Braga, atual CEO do Botafogo.

A nova faceta da Série B

Na transição entre as temporadas de 2021 e 2022, vimos o Cruzeiro ser o primeiro gigante brasileiro a ficar dois anos seguidos na Série B (desconsiderando a ida do Fluminense à Série C em um passado não muito distante). No entanto, o que parecia uma trágica aberração tem tudo para se mostrar a nova tendência do futebol brasileiro.

A Segundona atual foi considerada por muitos a "maior e mais difícil de todos os tempos" devido à presença de diversos campeões brasileiros. No ano que vem, apesar da provável partida do Botafogo, temos a iminente queda do Grêmio. E o Vasco ficando mais um ano na sarjeta. Podem chegar também Sport, Juventude, Santos, Bahia, Athletico-PR...

Enquanto isso, clubes emergentes vão se firmando. O Red Bull Bragantino, que carrega a sina da obrigação devido ao grande aporte financeiro, vai fazendo bonito - finalista da Sul-Americana e quarto lugar no Brasileirão. Já Cuiabá, América-MG e Atlético-GO vão se traduzindo em equipes de meio de tabela. O "iô-iô" não é mais tão constante para quem sobe à elite pelas primeiras vezes. A competitividade vem aumentando e o profissionalismo dá respaldo aos iniciantes.

Em um futebol cada vez mais dominado pelo dinheiro, apostar em trabalhos baseados em estudo, planejamento, scouting e desempenho é a saída para quem não tem tanta bala na agulha. Os quatro líderes da Série A, hoje, são também quatro dos mais ricos - Galo, Flamengo, Palmeiras e Bragantino. Cada um à sua maneira. Mas o Fortaleza, em quinto na tabela, serve como uma esperança para quem trabalha forte com o que tem no bolso.

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