Superação
Jogador de Niterói é convocado para Seleção Brasileira de Futebol Social
Atleta do Projeto ‘Farolho’ disputará o Mundial na Noruega

O jovem Guilherme Silva, de 19 anos, morador da comunidade do Caramujo, em Niterói, Região Metropolitana do Rio, vive um momento histórico: foi convocado para representar o Brasil na Copa do Mundo de Futebol Social, marcada para este mês, em Oslo, na Noruega.
Atleta do Projeto Social “Farolho”, Guilherme agora se junta a uma trajetória de talentos revelados pelo futebol social, como Leonardo Garcia, o Leleti, campeão mundial em 2018 com a Seleção Brasileira de Futebol Social. Ele também disputou a Kings League pela Fúria e chegou a treinar no Santos a convite de Neymar.
Além dele, Juliana Farolho — fundadora do projeto — também teve uma passagem marcante pela Seleção. Em 2018, foi campeã mundial e hoje dedica sua trajetória a formar novos talentos.
É um sonho acontecendo
O meio-campista embarca no dia 10 de agosto para São Paulo, onde se junta à delegação brasileira antes de seguir rumo à Noruega. A competição começa no dia 20. Guilherme foi um dos três atletas selecionados para representar o Estado do Rio de Janeiro, após disputar uma peneira com mais de 500 jovens de comunidades fluminenses.
A ficha demorou a cair”, admite Guilherme. Já fui enganado antes no futebol, mas agora é real. É um sonho acontecendo.

Ele revela que a convocação mexeu com sua autoestima: “Eu me cobro muito. Sempre achei que não ia conseguir. Mas dessa vez senti que era minha chance.”
O que é a Seleção Brasileira de Futebol Social
A Seleção Brasileira de Futebol Social representa o Brasil na Homeless World Cup, torneio mundial voltado para pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social. Organizada pela ONG Futebol Social, a modalidade atua como uma ponte entre o futebol amador e o profissional, oferecendo visibilidade a jovens que, muitas vezes, não têm condições de bancar os custos para seguir no esporte.
Formada por atletas de projetos sociais de diferentes regiões do país, a seleção é resultado de peneiras realizadas em diversos estados. Os jovens selecionados ganham a chance de disputar competições internacionais, vivenciando uma experiência única. Mais do que um campeonato, o projeto busca transformar vidas, promovendo inclusão e esperança por meio do esporte.
É mais do que futebol. É um projeto de vida pra muita gente
Projeto “Farolho”: onde tudo começa

A revelação de Guilherme tem origem no Projeto “Farolho”, iniciativa idealizada por Juliana Farolho, de 24 anos. Inspirada por sua própria trajetória no esporte, ela fundou o projeto após pedidos da própria comunidade do Caramujo, com a missão de abrir caminhos para jovens que sonham com uma carreira no esporte.
“Mesmo que meus sonhos não tenham se concretizado por completo, eu sabia que podia ajudar outras crianças a manterem os delas vivos”
Hoje, o projeto atende entre 80 e 140 jovens, com idades entre 5 e 22 anos. Os treinos acontecem às segundas, quartas e sextas, das 8h30 às 9h, com foco exclusivo no futebol.
Tem gente que olha e pensa que é só mais um projeto social. Mas a gente tá formando atleta, mesmo. Com seriedade e propósito.
Campo reformado, esperança renovada

Durante anos, o grupo treinou em um campo de terra batida, em péssimas condições. A virada veio em 2024, com o apoio da ex-vereadora e pedagoga Walkiria Nictheroy, que mobilizou forças para transformar o espaço em um campo com gramado sintético.
“Lutamos muito para essa obra sair do papel. Ver o Guilherme convocado é uma resposta linda pra todo esse esforço coletivo”,
Diz Walkiria, que segue apoiando o projeto fazendo articulações e buscando doações.
Cultura e esporte lado a lado
Juliana também atuou como gestora do Macquinho — centro cultural voltado para cidadania e economia criativa, localizado no Morro do Palácio, em Niterói. Lá, coordenou o Macquinho Itinerante, projeto que leva atividades culturais e esportivas para diversas comunidades da cidade.
A ideia sempre foi democratizar o acesso. O esporte transforma, mas a cultura também.
Essa experiência fortaleceu ainda mais o Projeto “Farolho”, que se tornou uma referência para outros projetos da região.
Exemplo que inspira
A convocação de Guilherme causou emoção entre os moradores do Caramujo e os atletas do projeto. “A gente não quer só ocupar o tempo das crianças. Queremos formar atletas com preparo técnico e emocional. O Guilherme é prova disso”, comemora Juliana.

O projeto também se preocupa com o desempenho escolar dos jovens.
Não é só no campo que a gente cobra. Tem que estudar também. O futebol abre portas, mas o conhecimento sustenta o caminho
A voz de Guilherme
Guilherme começou ainda criança no tradicional projeto Pazentinho, em Santa Bárbara. Com dificuldades financeiras, pensou em desistir, mas encontrou forças no apoio da família — especialmente do pai.
“No começo, eu só queria aprender a jogar melhor. Nem imaginava vestir a camisa da Seleção”, diz Guilherme.
A chance de participar do futebol social veio por meio de uma amiga — que já tinha sido campeã mundial na modalidade.
Ela me incentivou a tentar. Me ajudou a acreditar. Quando recebi a notícia da convocação, eu tremia”, lembra, rindo. Agora é cabeça erguida e foco total. Quero representar bem o Brasil e minha comunidade
Com treinos intensos e apoio do projeto, Guilherme se prepara para uma das experiências mais marcantes da sua vida. E, para o Caramujo, essa convocação já é uma vitória coletiva.


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