Crueldade
Idosa é resgatada de trabalho análogo à escravidão em SP
Ela trabalhava na residência de uma médica e um empresário
Uma idosa de 82 anos foi resgatada após 27 anos de trabalho análogo à escravidão em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo (SP). Segundo informações divulgadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) nesta quarta-feira (7), o caso aconteceu na residência de uma médica e de um empresário.
As investigações apontaram que a mulher não tinha acesso a salário e nem folga. Na última sexta-feira (2), a Justiça determinou o bloqueio de R$ 815,3 mil dos acusados. Um valor será transferido para a vítima, com objetivo de reparar os abusos praticados.
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Os acusados alegam que não pagavam o salário da mulher devido ao fato de estarem 'guardando dinheiro para ela'. Ainda de acordo com o MPT, a vítima, analfabeta, continuava trabalhando na esperança de que a patroa lhe daria o dinheiro guardado e, assim, ela poderia realizar seu sonho de comprar uma casa própria.
Investigações apontaram que a mulher não tinha acesso a salário e nem folga
Denúncia
Uma denúncia anônima levou à instauração de um inquérito civil que culminou no resgate da idosa. A ação foi comandada pelo procurador Henrique Correia, pelos auditores fiscais do trabalho Sandra Ferreira Gonçalves, Jamile Virgínio e Cláudio Rogério Lima Bastos, além de policiais militares.
Durante depoimento, a mulher contou aos agentes que a patroa mandava R$100 todos os meses para seu irmão, em Jardinópolis (SP), 22,6 quilômetros de distância de onde aconteceu o caso.
"A trabalhadora fazia referência à empregadora como aquela que provia tudo o que ela precisava. Na verdade, a empregada possuía um benefício assistencial, e a empregadora fazia o gerenciamento daquele recurso e adquiria os gêneros de primeira necessidade para a trabalhadora com esses recursos que eram passados pelo governo. Salário nunca recebeu", disse Virgínio.
Trabalho doméstico desde criança
Segundo as investigações, a mulher trabalhava quando criança na casa de outra família. Foi após a morte da antiga patroa que a vítima teria sido 'cedida' aos novos patrões.
"Sem estudos, sem amigos ou relacionamentos amorosos, se submeteu a tal situação de trabalho por ser extremamente vulnerável. Mulher, negra, de origem humilde, analfabeta, ela é mais um exemplo de interseccionalidade, uma vez que evidencia a sobreposição de opressões e discriminações existentes em nossa sociedade, as quais permitiram que tantos anos se passassem sem que a presente situação de exploração fosse descoberta pela comunidade que rodeava a família", disse Henrique Correia.
Tentativa de atrapalhar as investigações
Ainda segundo as investigações do Ministério Público do Trabalho, a médica teria se referido à vítima com palavras agressivas, como "minha vontade era te esganar" e "queria te bater, se pudesse".
A acusada dificultou as investigações, em primeiro momento tentando deixar o local com a idosa e, em segundo momento, impedindo a mulher de entregar seus documentos, como aponta o MPT.
A vítima foi encaminhada à Defensoria Pública da União (DPU) para tratar questões previdenciárias. Já os acusados podem ter seus nomes colocados na 'lista suja' do trabalho escravo, segundo o MPT.
Caso no Rio
Uma fábrica de cigarros paraguaios foi interditada em julho deste ano em Campos Elíseos, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A Polícia Civil encontrou 23 paraguaios e um brasileiro mantidos em uma situação parecida com escravidão.
De acordo com a Polícia Civil, os homens foram trazidos de seu país natal há cerca de três meses. Eles foram informados que iam receber R$ 500, mas contaram aos policiais que não receberam nada.
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