Palacete Imperial
Niterói quer palácio que foi moradia de Dom Pedro I; entenda
Imóvel no centro da cidade está abandonado pelo Estado

O tradicional Palacete Imperial de Niterói, também conhecido como Palacete da Praia Grande, localizado no centro da cidade, poderá ser municipalizado pela prefeitura. Isso porque já está em andamento a tratativa necessária com o Governo do Estado, atual responsável pela propridade.
O imóvel, que já serviu como residência de Dom Pedro I e abrigou importantes órgãos da administração imperial, encontra-se em avançado estado de deterioração e abandono. Além disso, causa insegurança e desconforto para quem circula pela região.
A antiga Rua do Imperador, onde o prédio está situado, fica na Rua Marechal Deodoro, entre as avenidas Visconde do Rio Branco e Visconde de Uruguai e foi cenário de momentos históricos marcantes. O edifício teve papel relevante no período em que Niterói foi capital da Província do Rio de Janeiro e, posteriormente, do Estado.
Patrimônio
Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) desde 1990 e, mais tarde, pela Prefeitura de Niterói em 2001, o imóvel está entre uma agência bancária e o restaurante popular da cidade, em uma das vias mais movimentadas do município. Muitos passam por ali sem conhecer sua importância histórica; outros relatam medo e insegurança diante do abandono.
A propriedade, que pertence ao governo do estado, está sendo negociada em conjunto com a Prefeitura de Niterói. O município também planeja revitalizar o imóvel como parte do projeto de requalificação do Centro de Niterói.
O prédio que já abrigou o imperador Dom Pedro I em 1824 apresenta sinais evidentes de abandono e degradação. No interior, é possível ver entulhos de tijolos e madeira, além de acúmulo de lixo espalhado por diversos cômodos.
Na área externa, uma das varandas exibe indícios de desgaste e risco de aparente desabamento, devido à estrutura comprometida pelo tempo e pela falta de manutenção. O imóvel já foi atingido por incêndios em mais de uma ocasião. Veja, a seguir, a imagem do antes e depois de uma das escadarias do prédio:

Relíquia abandonada e sensação de insegurança
A rua onde o imóvel está localizado concentra um grande número de comércios e tem gerado preocupação crescente entre moradores, trabalhadores e estudantes da região.
Embora a entrada esteja fechada, o prédio é frequentemente invadido por pessoas em situação de rua, que utilizam o local como moradia. Segundo o comerciante Evair Macedo, assaltantes também se escondem no prédio após cometerem crimes, principalmente contra estudantes que retornam da universidade à noite.

A insegurança não afeta apenas pedestres e comerciantes, mas também os motoristas que circulam pela região. Evair relata que, há algumas semanas, um homem acostumado a escalar o prédio atirou um objeto contra pessoas que passavam pela calçada. Já houve casos em que telhas e tijolos foram lançados atingindo carros e até ônibus.
Já quebrou para-brisas de ônibus, danificou carros e atingiu cerca de quatro motoqueiros. Isso tudo acontece às vezes à tarde, mas costuma ocorrer à noite
De acordo com a estudante de Publicidade Ana Júlia Ramos, de 20 anos, passar pela rua onde fica o palacete é assustador.
"Toda vez que passo por ali, tenho medo de atravessar a rua quando estou indo embora sozinha. Sempre preciso estar acompanhada para não correr nenhum risco, pois há muito lixo e um cheiro forte de drogas. Como estudo à noite, a situação piora por causa do horário e da presença de moradores em situação de rua. É preciso redobrar a atenção", explica a estudante.
A história do Palacete Imperial

De acordo com acervo da Fundação Municipal de Cultura de Niterói, a construção original foi erguida no início do século XIX. O imóvel já foi propriedade de um comerciante de escravos conhecido pelo apelido de "O Cheira". O conjunto incluía um sobrado e uma edificação térrea, separadas por um amplo espaço com oito portões.
Dom Pedro I adquiriu a propriedade, na época, por 6 milhões de réis e a utilizou, juntamente com Dona Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, durante as celebrações juninas de São João em 1824. Na época, o local era conhecido como Palacete da Praia Grande e, após o falecimento de Dom Pedro I (Duque de Bragança) em 1834, passou a integrar o patrimônio da Casa Imperial.
Com a elevação da vila à condição de cidade e capital da província, em 1835, o palácio, então denominado “de Niterói”, foi alugado pelo governo provincial para abrigar a Tesouraria, a Guarda Policial e a Tesouraria Geral. Além disso, já foi sede da Secretaria Estadual de Fazenda e também abrigado uma agência do antigo banco Banerj.
O aluguel era pago à Casa Imperial ou ao representante do espólio de Sua Majestade. Em 1842, diante de discordâncias entre os herdeiros, o imóvel foi levado a leilão e arrematado pelo então presidente da Província do Rio de Janeiro, Honório Carneiro Leão, futuro Marquês de Paraná, tornando-se o primeiro imóvel incorporado ao patrimônio da província.

Por um período, uma das dependências do imóvel serviu como abrigo para os bondes puxados por animais. Foi nas cocheiras desse abrigo que teve início um incêndio de grandes proporções, que causou severos danos aos edifícios.
No período republicano, por volta de 1910, o presidente do estado na época, Alfredo Backer, ordenou a reconstrução dos edifícios, além da construção de um terceiro, entre os dois existentes, para abrigar os serviços públicos, conferindo ao conjunto a aparência palaciana que possui atualmente. A reforma resultou na estrutura atual, composta por três alas interligadas e uma fachada com características ecléticas, que dão ao Palacete seu estilo imponente e histórico.

Segundo o historiador Renan Hart, de 41 anos, como muitos moradores da cidade, ele não sabia que a rua em que sempre caminhava abrigava um prédio histórico.
“Cresci caminhando e andando de ônibus pelas ruas do Centro de Niterói, entre edifícios antigos e calçadas gastas pelo tempo. Sempre me intrigou aquele prédio imponente na Rua Marechal Deodoro, com suas janelas largas, detalhes arquitetônicos e uma dignidade silenciosa , o Palacete Imperial, como aprendi mais tarde. Mas nunca ninguém me contou, nem na escola, nem nos jornais, que ali havia morado Dom Pedro I, que ali funcionaram repartições do Império e da Província, ou que aquele lugar era um verdadeiro marco da história do Brasil.”


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