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    Oportunidades

    Retomada do setor naval em Niterói impulsiona geração de empregos

    Vagas alertam para a demanda de mão de obra qualificada

    Publicado 12/11/2025 às 17:08 | Atualizado em 12/11/2025 às 20:52 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Estaleiro Mauá fica localizado na Ponta D'Areia, em Niterói
    Estaleiro Mauá fica localizado na Ponta D'Areia, em Niterói |  Foto: Divulgação / Estaleiro Mauá

    O setor marítimo vive uma fase de retomada no Brasil. Em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, empresas do ramo voltaram a contratar em ritmo acelerado, e chegam a pagar salários médios de R$ 8 mil.

    Apenas a empresa Camorim Serviços Marítimos informou já recrutou 288 novos trabalhadores, de janeiro a setembro deste ano: 65% no segmento marítimo, 23,5% no administrativo e 10,7% no operacional. As rendas salariais são diversas.

    Segundo Solange Santana, gestora de Gente e Gestão da Camorim, o momento reflete o aquecimento do setor.

    “Buscamos manter uma política de remuneração alinhada às práticas mais competitivas, reconhecendo o valor técnico e humano de cada profissional”, diz.

    A empresa opera no bairro Ilha da Conceição e conta com bases em Niterói e Vitória (ES), ampliando o suporte a operações marítimas. A procura é constante por oficiais de náutica, chefes de máquinas, marinheiros, moços de máquinas e profissionais de QSMS (Qualidade, Segurança Meio ambiente e Saúde), manutenção, engenharia e logística.

    O aumento das operações offshore e a chegada de novas embarcações estão abrindo espaço para profissionais técnicos e embarcados.

    Sendo um dos mais tradicionais do país, o Estaleiro Mauá, no bairro Ponta D'Areia, mantém vagas abertas para soldadores, chapeadores, maçariqueiros, operadores de hidrojato e técnicos de apoio, com previsão de ampliação nos próximos meses. Interessados podem enviar currículo para [email protected].

    “O Estaleiro Mauá tem presenciado uma demanda significativa por profissionais técnicos e especializados, impulsionada pela continuidade de projetos e pela posição estratégica do estaleiro”, explica o CEO Miro Arantes.

    Apesar do otimismo geral do setor, Miro Arantes alerta para a escassez de mão de obra técnica.

    “Estamos voltando a enfrentar um problema que já nos afetou há cerca de 20 anos: a falta de trabalhadores qualificados no setor naval. Esse cenário é consequência direta do prolongado período de mais de uma década sem atividades industriais relevantes, após o fechamento do Comperj e o fim de contratos estratégicos”, analisa.

    Qualificação 'dá boom' no mercado

    Profissional atuando em estaleiro localizado na Ilha da Conceição, em Niterói
    Profissional atuando em estaleiro localizado na Ilha da Conceição, em Niterói |  Foto: Divulgação / Camorim

    A qualificação tem sido um dos caminhos para atender a esse novo ritmo do mercado. Programas de formação e capacitação técnica estão em alta, e muitos profissionais têm encontrado neles a porta de entrada para o setor.

    Um dos exemplos é o curso gratuito de Moço de Máquinas, na Camorim, voltado à formação de novos tripulantes, que no mercado poderia custar até R$ 20 mil.

    Com 722 horas de aulas teóricas e práticas, o curso tem duração de seis meses e oferece disciplinas como História Marítima, Meteorologia, Oceanografia, Legislação Marítima e Ambiental, Inglês Técnico e Primeiros Socorros. A formação de 6 meses tem conclusão prevista para abril de 2026. Ainda não há previsão de abertura da próxima edição.

    Vivências reais

    Jeferson Gois, de 38 anos, atua como eletricista
    Jeferson Gois, de 38 anos, atua como eletricista |  Foto: Divulgação / Camorim

    Jeferson Gois, de 38 anos, é eletricista naval e conta que teve uma reviravolta positiva na vida profissional após investir em conhecimentos.

    "Eu vim de uma família humilde, sem condição de custear um curso. Tive minha primeira oportunidade de emprego no comércio, trabalhando no Ceasa de Niterói. Após esse período, fiz um curso técnico de eletrotécnica no Senai e com isso consegui minha primeira oportunidade na indústria marítima na área de construção marítima de grande porte", enfatiza.

    Ele destaca a importância da formação técnica.

    "O que eu posso aconselhar para as pessoas que estão buscando se destacar no mercado é, antes de tudo, buscar uma formação técnica e os cursos de qualificações como NR10."

    Além das áreas técnicas, outras funções também ganham relevância. Juliana de Almeida, de 35 anos, cozinheira do setor naval desde 2014, afirma que sempre se identificou com a rotina embarcada.

    Aspas da citação
    A área offshore me atraiu por oferecer a oportunidade de atuar em um ambiente diferenciado, que exige responsabilidade, organização e trabalho em equipe. Além disso, é um setor que valoriza profissionais comprometidos e oferece boas oportunidades de crescimento
    Juliana de Almeida, cozinheira do setor naval
    Aspas da citação
    Juliana de Almeida, de 35 anos, é cozinheira de embarcações
    Juliana de Almeida, de 35 anos, é cozinheira de embarcações |  Foto: Divulgação / Camorim

    A profissional admite que o início exigiu adaptação, mas que se lançar nas possibilidades foi fundamental para a construção da sua carreira.

    "Com o tempo, esses desafios se transformaram em aprendizado e contribuíram muito para meu crescimento profissional e pessoal", explica.

    Diego Prata, de 42 anos, marinheiro de máquinas, também viu na área uma chance de transformação. Ele atuava no setor de entrega de rancho, ou seja, no processo logístico de fornecimento de suprimentos, especialmente alimentos e provisões, e quando viu os benefícios e a possibilidade de ascensão na carreira, não pensou duas vezes:

    "Não encontrei barreiras, pois já estava próximo à área. Busquei capacitação em um curso e consegui me formar em 2014. Hoje em dia eu observo que a área marítima está com muitas novas oportunidades de emprego. Eu aconselho os jovens a buscarem especializações na área através de cursos técnicos", ensina.

    O Estaleiro Mauá também mantém programas de capacitação e recrutamento interno, além de uma escolinha de solda voltada à prática e aperfeiçoamento técnico dos trabalhadores.

    “Contamos com um programa que prioriza o aproveitamento de talentos já presentes na organização, promovendo oportunidades de crescimento e desenvolvimento de carreira”, completa o CEO Miro Arantes.

    A empresa também firmou parcerias, que oferecem cursos profissionalizantes e programas de atualização. Além disso, está em negociação com a Prefeitura de Niterói para a criação de um Programa de Capacitação de Mão de Obra, que visa alinhar a qualificação profissional às demandas da indústria naval local.

    O papel dos práticos

    Bruno Fonseca, presidente da Praticagem do Brasil, e prático no Ceará, em manobra à noite
    Bruno Fonseca, presidente da Praticagem do Brasil, e prático no Ceará, em manobra à noite |  Foto: Divulgação / Praticagem do Brasil

    Enquanto o setor marítimo cresce no Rio e em Niterói, uma profissão essencial, mas pouco conhecida fora do meio náutico, garante a segurança das operações: a dos práticos, responsáveis por conduzir navios na entrada e saída dos portos. A chamada praticagem é estratégica: 95% das mercadorias do país passam pelo mar.

    “O Ministério de Portos e Aeroportos projeta um crescimento médio do setor entre 3% e 6% nos próximos anos. O trabalho do prático é tomado por uma responsabilidade imensa e será sempre essencial para garantir a proteção das pessoas, do meio ambiente onde vivem e das economias ao redor do mundo”, destaca Bruno Fonseca, presidente da Praticagem do Brasil.

    No Brasil, há 590 práticos habilitados distribuídos em 20 zonas de praticagem, entre elas a ZP-15, no Estado do Rio, atuando de São João da Barra a Angra dos Reis, passando por Niterói, Itaguaí e a capital.

    Somente em 2024, foram registradas 16,8 mil manobras, um aumento de 33% em relação a 2021. Cada operação pode durar de duas a quatro horas, ou mais de 24, quando envolve plataformas.

    Para se tornar prático, é necessário passar por um rigoroso processo seletivo da Marinha e realizar centenas de manobras supervisionadas. Depois de habilitado, o profissional precisa fazer cursos de atualização a cada cinco anos.

    De Niterói à Praça Mauá, os práticos trabalham lado a lado com tecnologia de ponta: câmeras, sensores e sistemas de monitoramento. Tudo para garantir que cada embarcação cruze a Baía de Guanabara com segurança.

    A Marinha do Brasil informou que não há previsão de abertura do Processo Seletivo para Candidatos à Praticante de Prático (PSCPP), e quando houver, divulgará as informações por meio do site da Diretoria de Portos e Costas (DPC). Atualmente, está em revisão o conteúdo programático e a bibliografia da NORMAM-311/DPC.

    O Processo Seletivo, conduzido pela DPC, inclui prova escrita, avaliação psicofísica e física, prova de títulos e prova prático-oral.

    Segundo a Marinha, o Serviço de Praticagem garante a assessoria ao comandante de embarcações, permitindo movimentação segura nos portos brasileiros, que são responsáveis por mais de 95% do comércio internacional. Em 2024, a movimentação portuária atingiu 1,32 bilhão de toneladas, refletindo positivamente na balança comercial.

    Vale destacar que Praticantes e Práticos não são servidores públicos e exercem uma atividade privada, com remuneração paga pelas empresas contratantes.

    Desafios

    Segundo a Camorim, há um horizonte promissor para jovens que desejam ingressar na área.
    Segundo a Camorim, há um horizonte promissor para jovens que desejam ingressar na área. |  Foto: Divulgação / Camorim

    Entre os principais desafios do setor, especialistas citam a infraestrutura defasada, a burocracia nos processos de licenciamento ambiental e a concorrência com polos industriais de outros estados. Ainda assim, há um horizonte promissor para jovens que desejam ingressar na área.

    “Há grandes oportunidades para técnicos, engenheiros e operadores recém-formados. Experiência prática, cursos técnicos e conhecimento em soldagem e automação naval são diferenciais que tornam o profissional mais atrativo”, ressalta Miro Arantes, do Estaleiro Mauá.

    Solange Santana, da Camorim, reforça o fortalecimento do setor.

    "Seguimos fortalecendo nosso time e impulsionando o desenvolvimento da nossa gente. Acreditando na projeção de mais 10% de profissionais em nosso quadro, até o final do ano de 2026", conta.

    Estágios

    Na Camorim, há espaço crescente para jovens talentos e estagiários, por meio do programa “Navegantes do Futuro”, criado para desenvolver a nova geração de profissionais. As vagas costumam ser divulgadas através das redes sociais.

    O Estaleiro Mauá também oferece um Programa de Trainee voltado à mão de obra direta e técnica, com foco em capacitação prática e integração às rotinas operacionais.

    Fase de retomada

    Profissional atuando em estaleiro localizado na Ilha da Conceição, em Niterói
    Profissional atuando em estaleiro localizado na Ilha da Conceição, em Niterói |  Foto: Divulgação / Camorim

    Na avaliação de Carlos Müller, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos (Conttmaf), a fase de retomada do setor marítimo brasileiro está atrelada ao aumento no número de navios na cabotagem, impulsionada pelo programa BR do Mar.

    Ele também cita que na construção naval, o estímulo vem do crescimento do transporte nas hidrovias interiores e nas operações offshore com a Petrobras.

    "A Conttmaf considera esse movimento essencial para fortalecer a indústria naval e a soberania marítima do país, gerando empregos para brasileiros", argumenta Müller, que também chefia o Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar).

    Müller alerta, no entanto, que o crescimento rápido também atraiu empresas sem estrutura adequada.

    "O que tem gerado uma demanda maior por fiscalização para evitar operações inseguras que podem gerar acidentes e poluição", opina.

    Ele lembra que Rio e Niterói continuam sendo polos históricos da construção naval e das operações offshore.

    "As entidades filiadas à Conttmaf têm buscado apoio das autoridades para capacitação e requalificação dos trabalhadores. Participamos do Fórum de Retomada da Construção Naval no Rio de Janeiro com outras entidades que buscam mobilizar o setor, aprimorar a capacitação profissional e envolver as esferas governamentais", finaliza.

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    Ezequiel Manhães

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