Reconhecimento
ABL dá posse à primeira mulher negra de sua história
Ana Maria Gonçalves sucede o linguista Evanildo Bechara

A escritora Ana Maria Gonçalves assumiu, na noite desta sexta-feira (7), a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), em cerimônia no Petit Trianon, no Centro do Rio. Ela sucede o linguista Evanildo Bechara, morto em maio, e passa a ser a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na instituição desde sua fundação, em 1897.
A posse marcou também outro marco interno da ABL: aos 54 anos, ela completa 55 na próxima semana, Ana Maria é a mais jovem entre os atuais imortais. É apenas a 13ª mulher eleita para a Academia e a sexta integrante feminina no quadro atual.
Recebida pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, a autora ouviu, da tribuna, o anúncio oficial que formaliza sua entrada na instituição. O colar acadêmico foi entregue por Ana Maria Machado, enquanto o diploma veio das mãos de Gilberto Gil. A comissão de recepção contou com nomes como Fernanda Montenegro, Rosiska Darcy de Oliveira e Miriam Leitão.
Um detalhe atraiu a atenção do público: o fardão usado por Ana Maria foi confeccionado por integrantes da Portela, escola que levou às ruas, em 2024, o enredo inspirado em Um defeito de cor. A escritora mencionou a agremiação no discurso, em tom de homenagem.

Em sua fala, diante de familiares e convidados, Ana Maria abordou a trajetória de exclusões dentro da própria Academia. Recordou a resistência histórica à entrada de mulheres e a demora para a representação de pessoas negras. Mencionou a candidatura de Conceição Evaristo, em 2018, como um ponto de inflexão no debate interno.
"Foi um processo que fez a ABL olhar para si e perceber o quanto ainda era homogênea", afirmou.
A escritora citou ainda Domício Proença Filho, que, por muito tempo, foi o único imortal negro, e relembrou o apagamento da negritude de Machado de Assis ao longo do século XX.
Quem é Ana Maria Gonçalves?
Mineira de Ibiá, Ana Maria trabalhou por 15 anos em publicidade antes de se dedicar totalmente à literatura. Publicou seu primeiro romance, "Ao lado e à margem do que sentes por mim", e depois "Um defeito de cor", livro de 952 páginas que levou cinco anos para ser concluído e venceu o prêmio Casa de las Américas, em 2007.
É roteirista, dramaturga, professora de escrita criativa e já foi escritora residente em universidades nos Estados Unidos, como Stanford, Tulane e Middlebury. Também publicou contos em Portugal, Itália e nos EUA.
A literatura, contou, nasceu cedo. Desde criança, lia jornais e revistas em casa. No discurso, emocionou-se ao agradecer à família:
"Sem esse núcleo de amor e apoio que nossa família sempre cultivou eu nada seria", disse.
Com a entrada de Ana Maria Gonçalves, a ABL soma mais um passo para ampliar a diversidade em seus quadros, ainda que, como lembrou a nova imortal, “ainda haja muito a reconstruir”.

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