Grave
Lista citada por Garotinho detona escândalo na Alerj e no Estado
Ex-governador aponta para mesadas e contratos ilícitos

Mesada para deputados. É assim que o ex-governador Anthony Garotinho (Republicanos) resumiu seu relato durante a Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado, revelando a existência da chamada “Tropa do Bacellar” na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), citando abertamente três principais nomes de parlamentares supostamente envolvidos, sendo dois do Partido Liberal (PL), o mesmo do presidente afastado Rodrigo Bacellar; e um do União Brasil, que inclusive preside uma das comissões mais importantes da Casa, a CCJ.
Segundo Garotinho, ao todo, 47 parlamentares da Alerj estariam recebendo pagamentos regulares em um suposto esquema que envolveria Palácio Guanabara, secretarias estaduais e empresários. As acusações foram feitas na última terça-feira (16), mesmo dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados contra Bacellar, que foi preso pela PF, solto após votação de colegas e afastado da presidência.
A lista

Os valores da mesada, conforme Garotinho, estariam registrados em três celulares apreendidos na casa do chefe de gabinete do presidente afastado da Alerj, e que foi um dos alvos de busca e apreensão na segunda etapa da Operação Unha e Carne, nesta terça.
"Tem gente de tudo quanto é partido envolvido. Vai aparecer. Está no telefone dele. Ele foi preso com 3 telefones. Dois eram telefones e um ele usava como agenda, porque ele achava que nunca ia ser pego
Tem uma lista de 47 deputados que recebem mesada.
Questionada, a Polícia Federal afirmou que 'não se manifesta sobre investigações eventualmente em curso'. Garotinho, apesar de procurado, ainda não informou à reportagem a origem das denúncias.
'Tropa do Bacellar' (Alerj) e 'Turma do Charuto' (Governo do Estado) chamam atenção em depoimento de Garotinho
"Montaram duas organizações criminosas. Uma na Assembleia Legislativa e outra no governo", revelou Garotinho na CPI, que acrescentou que, se houver investigação profunda, "vai faltar cadeia pra autoridade".
Turma do charuto
Segundo o ex-governador do Rio, o esquema envolveria desvio sistemático de recursos públicos em contratos das secretarias, além de mecanismos como incentivos fiscais e negócios regulados pelo governo.
Ao ser questionado pelo relator, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), Garotinho apontou Bacellar como o chefe do grupo na Alerj e Cláudio Castro como líder no Executivo.
Abaixo deles, Garotinho citou deputados estaduais que integrariam a “tropa do Bacellar” e, no governo, um núcleo apelidado de “turma do charuto”, que seria formado por secretários e aliados políticos.
"Não sei porque esse apelido. Não sei nem se o governador usa charuto. Mas o apelido é da 'turma do charuto", disparou o político, citando os nomes dos possíveis envolvidos.
Feudo do poder

Segundo ele, a falta de experiência administrativa de Castro teria levado à terceirização do poder, transformando cada secretaria em um “feudo” voltado à obtenção de lucro para grupos específicos.
"O governador não era uma pessoa experiente. Ele era um vereador. Caiu ali de paraquedas e tudo terceirizou. Cada secretaria é um feudo e cada um quer obter pra si e para o grupo o maior lucro possível. Mas quem tem o dever de zelar por isso é o governador", enfatizou.
O ex-secretário de Segurança Pública do Rio também detalhou o que chamou de “captura do dinheiro”, afirmando que a arrecadação ilegal não ocorreria prioritariamente por meio de emendas parlamentares, mas por fraudes em contratos públicos, incentivos fiscais e autorizações administrativas condicionadas ao pagamento de propina.
"O cara quer botar gás no posto de gasolina, tem que pagar R$ 500 mil. Se não pagar R$ 500 mil, não autoriza, não tem licença para botar", contou.
No caso do Governo do Estado, Garotinho afirmou que o esquema envolveria secretarias e grandes negócios, especialmente nas áreas de energia, combustíveis e incentivos fiscais. Ele comparou a situação atual à do governo Sérgio Cabral, afirmando que, proporcionalmente, os desvios seriam tão graves quanto.
"Eles só não estão roubando mais do que o Cabral porque, na época do Cabral, tinha a Copa do Mundo, tinha a Olimpíada, tinha muitas obras do PAC, mas em proporção é uma coisa impressionante", disse Garotinho, que complementou:
Se tiver uma investigação séria, vai faltar cadeia para autoridade.

Ezequiel Manhães
Redator
Jornalista com experiência em hard news e produção audiovisual, tendo como foco reportagens factuais, especiais e conteúdos multimídia. Atua com rapidez, comprometimento e precisão na apuração, tendo como destaques coberturas de temas como política, economia, cidades, segurança pública e comportamento.

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