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Folhas e raízes viram livro artesanal para crianças em São Gonçalo
A publicação tem o sugestivo nome 'Esta Flor Esta'

A escritora e ilustradora Luciene Prado lançou um respiro sensível e necessário: “Esta Flor Esta!”, seu novo livro infantil artesanal. Feita com folhas, sementes, raízes, a obra não é apenas uma publicação, mas uma experiência multissensorial e poética que reconecta leitores de todas as idades com a natureza e sua própria infância, de acordo com a autora.
Viabilizado por meio da Lei Paulo Gustavo-São Gonçalo, o projeto é inédito na região e nasce da profunda relação da autora com o meio ambiente. O papel do livro foi produzido manualmente a partir de resíduos do suco de clorofila, o mesmo que a autora consome há mais de 30 anos, em sintonia com seu estilo de vida natural.
"O suco que me alimenta é o que também compõe o livro", relata Luciene.
A iniciativa começou com uma oficina criativa realizada em parceria com o Movimento de Mulheres de São Gonçalo, onde os resíduos orgânicos se transformaram, literalmente, em matéria literária. Segundo Luciene, essa criação artesanal é um sonho antigo que remonta aos tempos em que confeccionava livros com seus alunos. Hoje, ela transforma esse sonho em realidade, e convida o público a fazer o mesmo.
A obra, de edição limitada, apresenta ilustrações produzidas com fragmentos naturais, como ipê, monguba e guapuruvu. Mais do que ver, o leitor é convidado a sentir: o livro tem cheiro, textura e janelas pop-up, que o transformam em um objeto de arte sensorial. Cada página abre possibilidades de interação, como se as crianças e os adultos fossem chamados a criar seus próprios mundos, paisagens e personagens.
"Esta Flor Esta! é um palíndromo que fala da vida em transformação. As folhas usadas não foram arrancadas da natureza, mas recolhidas. A partir do que é descartado, criamos algo novo, explica a autora informando ainda que a filosofia não apenas atravessa a obra, mas sustenta sua essência: transformar o lixo em poesia, o comum em extraordinário.

Mais do que literatura, o livro é um manifesto silencioso de educação ambiental. Em uma cidade como São Gonçalo, que ainda não conta com coleta seletiva, Luciene acredita na arte como caminho de mudança.
“Resíduos vegetais podem ter uma segunda vida. Podem virar papel, livro, poesia. Podemos repensar o consumo, o descarte, as escolhas do dia a dia. A natureza está no nosso quintal, na nossa cozinha.”
O lançamento foi realizado na Área de Preservação Ambiental (APA) de Maria Paula, em São Gonçalo, local escolhido não por acaso, mas por traduzir a essência do livro: trilhas, animais silvestres, placas educativas e o verde pulsante que também habita cada página da obra.


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