Estelionato
Alerta para adestrador golpista em Niterói
Polícia Civil investiga denúncias

Promessas de adestramento “sem dor nem trauma”, milhares de seguidores nas redes sociais e pacotes que podem chegar a R$ 1,5 mil. Por trás do discurso profissional e da aparência de confiança, um suposto adestrador de cães vem sendo acusado por clientes de aplicar golpes em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
De acordo com as denúncias, o padrão se repete. Ele fecha contratos, comparece a poucas aulas e depois desaparece, deixando prejuízo financeiro.
Uma das vítimas mora no Barreto, na Zona Norte, e relata ter perdido R$ 900 após contratar um pacote de aulas em fevereiro deste ano, que nunca foi concluído.
“Ele chegou a fazer umas três aulas, mas depois ficou dando desculpas. Eu conheci ele fazendo uma pesquisa de adestradores pela região, e a primeira pessoa que apareceu como opção no Google foi ele, o golpista. Assim que entro no Instagram, me deparei com 10 mil seguidores, uma quantidade boa, nisso achei que seria super de confiança”, contou.
Segundo ela, o perfil ativo nas redes sociais, com fotos e vídeos de cães, ajudou a criar a sensação de segurança. Mas de seis sessões combinadas, ele foi apenas em três, e depois sumiu.
Na conversa com os clientes, o suposto profissional detalha um método que promete resultados rápidos e sem sofrimento para os animais. O homem também garante trabalhar com um pacote de seis sessões, duas vezes por semana, com aulas de 45 minutos, usando o que chama de “adestramento inteligente”
O valor anunciado pelo serviço chega a R$ 1.500, mas o golpista costuma oferecer descontos para pagamento à vista ou via Pix.
Segundo a Polícia Civil, o caso mencionado foi registrado na 78ª DP (Fonseca) por meio da Delegacia On-line.
"A unidade solicita que a vítima compareça a delegacia, a fim de fornecer outras informações que auxiliem na investigação. Diligências estão em andamento para apurar os casos", esclarece a nota.
Outro caso
Além das suspeitas de estelionato, há relatos ainda mais graves. Um dos casos teria ocorrido em junho de 2024, no bairro Jardim Icaraí, quando o homem foi acusado de furtar uma aliança avaliada em R$ 7 mil enquanto prestava um suposto serviço de adestramento.
A vítima, um representante comercial de 53 anos, contou que contratou o adestrador pela internet para treinar uma cadela vira lata de grande porte, que tinha sido adotada recentemente.
O pacote fechado era de R$ 800 por cinco aulas, com pagamento previsto apenas ao final do serviço. No dia marcado, porém, o contratante não estava em casa.
“Nesse dia que eu marquei foi numa sexta-feira e, infelizmente, eu não pude estar presente. Estava só minha filha com a secretária lá de casa”.
Segundo o relato, o adestrador ensinou apenas um comando básico e pediu para usar o banheiro. Após a visita, o morador afirma ter percebido o desaparecimento da aliança, que havia sido deixada sobre a pia.
“Quando eu cheguei em casa, eu comecei a procurar a aliança e não encontrei. O relógio ele não subtraiu, mas a aliança ele levou. A aliança custou sete mil reais. Então, no fim das contas, o que ele ensinou, só fazer o cachorro sentar, custou sete mil reais”.
Medo
O serviço foi cancelado no mesmo dia e o pagamento das aulas não chegou a ser feito. “No mesmo dia, à noite, eu liguei pra ele e falei que não queria mais o serviço”.
Mesmo assim, a vítima afirma que não registrou ocorrência por medo. Meses depois, ele descobriu que não se trataria de um caso isolado atrelado ao mesmo homem.
“Depois eu procurei no Instagram pelo nome dele e vi que esse cara já tinha sido preso. Ele falava que era adestrador dos cachorros dos artistas. Tinha relatos de que ele roubou dólar na casa de pessoas, ouro na casa de outras”.
A orientação é que pessoas que tenham passado por situações semelhantes procurem a Polícia Civil para registrar ocorrência e formalizar a denúncia.
Dicas
O especialista em comportamento canino Carlos Sardinha, de 44 anos, alerta que, ao identificar um golpe, o cliente deve acionar imediatamente as autoridades. “Procure a polícia e registre um boletim de ocorrência por estelionato”, orienta.
Atuando na área há quase dez anos, Sardinha afirma que um adestrador profissional precisa ter um perfil transparente, no qual apresente e explique claramente as técnicas utilizadas no trabalho.
“Normalmente, o perfil do adestrador golpista tem muitas postagens, mas mostra apenas o cachorro. Não há comentários, avaliações ou depoimentos de clientes. É alguém que sabe usar as redes sociais e, muitas vezes, aparece em primeiro lugar quando se pesquisa no Google, por exemplo: ‘adestrador em Niterói’”, explica.
Sobre a formação, ele ressalta que a profissão de adestrador não é regulamentada no Brasil, o que carece de ainda mais atenção da clientela.
“Qualquer pessoa pode se apresentar como adestrador. Por isso, o cliente precisa diferenciar os profissionais por meio dos feedbacks de outros clientes, da estrutura oferecida e da forma de atendimento”, destaca.
Outro ponto de atenção, segundo Sardinha, é o preço muito abaixo do mercado.
“Esse é um sinal crítico. O barato pode sair caro, e o cliente pode acabar perdendo facilmente um dinheiro que conquistou com muito sacrifício”, alerta.
De acordo com o especialista, todos os adestradores profissionais de Niterói mantêm perfis com avaliações no Google.
“É importante pedir o Instagram, a página no Google ou o site do profissional. Se possível, solicite também o contato de outros clientes para conversar diretamente sobre o atendimento prestado”, recomenda.
Sardinha ainda orienta que o cliente exija um contrato detalhado de prestação de serviços, com todas as informações claras, incluindo os dados da conta bancária.
“Isso ajuda a cercar o golpista e diminui significativamente as chances de fraude”, conclui.

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