Crueldade
Morte de cachorra em condomínio de Niterói vira caso de polícia
Tutor denuncia que Lindinha foi envenenada por debaixo da porta

Uma família denuncia que sua cachorra paraplégica morreu após ser envenenada dentro do próprio apartamento, em um prédio localizado na Rua José Bonifácio, no bairro São Domingos, em Niterói. O caso ocorreu no dia 17 de setembro. Lindinha, que vivia com a família desde 2018, faleceu na madrugada do dia 19.
Segundo o tutor, o advogado Rafael Torres, de 46 anos, o animal era acompanhado por ele durante todo o dia em suas férias. No entanto, por volta das 18h daquele domingo, ele e a esposa precisaram sair por cerca de duas horas. Ao chegarem em casa, por volta das 20h, notaram que a cadela havia vomitado, um comportamento incomum, segundo ele. Durante toda a noite, Lindinha passou mal.
"Ela passou mal à noite, mas como moramos em apartamento, jamais cogitamos envenenamento. Porém, no dia seguinte, ela piorou muito", relata Rafael.
Ele então entrou em contato com um veterinário, que orientou levá-la à clínica caso os sintomas persistissem. Como o quadro não melhorou, Lindinha foi levada à clínica veterinária, onde ficou internada e os exames apontaram sinais típicos de envenenamento.
Exame confirma intoxicação
Segundo o laudo toxicológico enviado ao ENFOCO, ao dar entrada na clínica, Lindinha apresentava prostração severa, perda parcial da consciência, mucosas pálidas, miose, taquicardia, dificuldade respiratória, salivação excessiva e viscosa, cólicas abdominais, fraqueza muscular, apatia e vômito. Os sinais clínicos apontam para "intoxicação por carbamatos ou organoclorados".
A cadela recebeu tratamento emergencial com administração de atropina, antitóxicos, fluidoterapia venosa e carvão ativado. Apesar dos esforços da equipe veterinária, Lindinha não resistiu.
Rafael acredita que o veneno tenha sido colocado por algum vizinho por meio do vão inferior da porta do apartamento, por onde a cadela costumava ficar deitada. Segundo ele, a abertura ficou maior do que o normal após a instalação da porta, e, embora a família tentasse colocar um protetor, Lindinha frequentemente o removia.
“Ela gostava de ouvir os barulhos do corredor e de quem passava. A única forma de ela ter sido envenenada é por ali. Quem fez isso sabia exatamente a hora que saímos."
Apesar da confirmação de envenenamento pelo exame clínico, o tipo exato de veneno não pôde ser identificado. A família cogitou realizar uma necropsia para esclarecer mais detalhes, mas desistiu devido ao alto custo, cerca de R$ 3 mil e à possibilidade de o laudo não ser conclusivo.
Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer dentro da minha própria casa. Se alguém é capaz de envenenar uma cachorra paraplégica, é capaz de qualquer coisa
Sem câmeras e dedetização descartada
Rafael procurou a administração do condomínio para verificar se a dedetização realizada dias antes no prédio poderia ter alguma relação com o caso. Contudo, segundo ele, o procedimento havia sido feito anteriormente, e os produtos utilizados não correspondiam aos sintomas clínicos apresentados pela cadela.
O corredor do prédio também não possui câmeras de segurança, o que dificulta a identificação de possíveis responsáveis.
A família ainda está abalada com a perda da cadela, que foi resgatada das ruas após ter sido atropelada. Na época, ela passou por uma cirurgia complexa com a ajuda de uma vaquinha online. Apesar de ter perdido os movimentos das patas traseiras e enfrentado um câncer, Lindinha era considerada uma cachorra forte, alegre e companheira.
“Ela era iluminada. Mesmo sendo paraplégica, era superativa, comia bem, era forte e muito amorosa. Fez parte de todos os momentos importantes da minha vida. Isso foi cruel demais. Não pode cair no esquecimento.”
Além do luto, a família relata sentir-se insegura dentro da própria casa, especialmente por ainda ter outros três cães.
Minha casa, que era um lugar de paz e segurança, um porto seguro onde eu me sentia sossegado, deixou de ser assim. Acredito que a Lindinha salvou os outros cachorros de também serem envenenados
Medidas legais
Rafael afirma que já registrou boletim de ocorrência na 76ª DP (Centro de Niterói), denunciou o caso de maus-tratos à Prefeitura de Niterói e ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Procurada, a Polícia Civil informou que a investigação está em andamento na 76ª DP (Niterói). "Agentes realizam diligências para apurar os fatos e o tutor prestará depoimento na unidade", disse em nota.
Maus-tratos contra animais é crime, conforme a Lei 14.064/2020, conhecida como Lei Sansão. Quando resulta em morte, a pena pode variar de dois a cinco anos de reclusão, além de multa e proibição da guarda de animais.
Casos semelhantes de envenenamento
Ainda neste mês, a equipe do ENFOCO denunciou uma nova onda de mortes de cachorros por envenenamento na Rua Mário Triliano, no bairro Ilha da Conceição, em Niterói. Na ocasião, ao menos três cães foram encontrados mortos com sinais de intoxicação em menos de uma semana.
O local já possui histórico de casos de envenenamento de animais em situação de rua e acabou se tornando um ponto frequente de abandono.
Em julho deste ano, nossa equipe também relatou a história de um cachorro da raça American Bully, que foi deixado no mesmo bairro. O animal permaneceu nas ruas por cerca de três dias. Sensibilizados com a situação, moradores ofereceram comida, água e abrigo até que ele fosse resgatado. Após a publicação da reportagem, o cão foi adotado por duas mulheres.


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