Bloqueio
Polícia Civil realiza operação e atinge núcleo financeiro do CV
Operação Contenção cumpre mandados em três estados

A Polícia Civil realiza, nesta terça-feira (16), mais uma fase da Operação Contenção, com foco no desmonte do núcleo financeiro do Comando Vermelho. A ofensiva é conduzida por agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), com apoio da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), e mira um amplo esquema de lavagem de dinheiro liderado por Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, e Carlos da Costa Neves, o “Gardenal”.
A ação inclui o cumprimento de mandados de busca e apreensão, o bloqueio de contas bancárias pessoais e empresariais, o sequestro de bens móveis e imóveis e o pedido judicial de bloqueio de aproximadamente R$ 600 milhões, valor correspondente à movimentação financeira suspeita identificada em cerca de dois anos.
As diligências ocorrem na capital e na Baixada Fluminense, no município de Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, além de Juiz de Fora (MG) e Pontes e Lacerda (MT). Também participam da operação policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), de unidades do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), além de agentes das polícias civis de Minas Gerais e do Mato Grosso.
Segundo as investigações, que contaram com o apoio do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), a sustentação da facção vai além do tráfico de drogas. O grupo criminoso operava um complexo sistema de lavagem de dinheiro, responsável por receber, ocultar, movimentar e reinserir recursos ilícitos no sistema financeiro. Esses valores financiavam a compra de drogas, armas, veículos e imóveis, além de manter o domínio territorial da organização.
As apurações apontam que Doca, uma das principais lideranças do Comando Vermelho, e Gardenal, seu principal operador, estruturaram e coordenaram o esquema por meio do uso de terceiros e empresas de fachada para dissimular a origem criminosa dos recursos. No centro da engrenagem, foi identificado um operador responsável por concentrar grandes volumes de dinheiro em contas pessoais e empresariais sob seu controle, conforme demonstrado por Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs).
As movimentações detectadas são incompatíveis com a renda declarada, o que reforça a tese de que essas contas funcionavam como verdadeiras “caixas centrais” da facção. Com as medidas judiciais de bloqueio, a polícia afirma ter neutralizado pontos-chave do fluxo financeiro do grupo criminoso.
O esquema utilizava ainda “mulas financeiras” — pessoas ligadas ao tráfico, à extorsão de moradores e à exploração de serviços ilegais — para realizar depósitos em dinheiro vivo. Os valores, frequentemente elevados e fracionados, eram depositados em diferentes agências bancárias, muitas vezes no mesmo dia e por pessoas distintas, um padrão clássico de lavagem de dinheiro destinado a dificultar o rastreamento da origem ilícita.
A investigação concentrou-se no caminho do dinheiro, demonstrando que, enquanto os crimes se manifestavam nas comunidades dominadas pela facção, os recursos arrecadados eram direcionados a contas específicas para posterior redistribuição e manutenção de toda a estrutura criminosa.
Documentos reunidos no inquérito indicam que Pontes e Lacerda (MT) foi utilizada como um dos principais polos de concentração financeira, funcionando como base para recebimento e movimentação dos valores ilícitos, distante dos centros de maior visibilidade do tráfico, estratégia adotada para reduzir a exposição das lideranças.
Além do bloqueio de contas, a Justiça determinou o sequestro de bens móveis e imóveis, incluindo uma propriedade rural no Mato Grosso, considerada incompatível com a renda declarada dos investigados. A medida busca impedir a ocultação patrimonial e fortalecer a responsabilização penal dos envolvidos.
A operação também cumpre mandados de busca e apreensão com foco na coleta de documentos, mídias digitais, valores, veículos e outros elementos probatórios, aprofundando a investigação financeira.
A Operação Contenção integra uma ofensiva estratégica do Governo do Estado para frear o avanço territorial do Comando Vermelho, com o objetivo de desarticular sua estrutura financeira, logística e operacional e prender traficantes em atuação. Até o momento, a operação já resultou em mais de 250 capturados, 136 criminosos neutralizados em confronto, cerca de 460 armas apreendidas — sendo 189 fuzis — e mais de 50 mil munições recolhidas.

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