Operação
Profeta Santini: quem é o pastor acusado de estelionato religioso
Central de telemarketing em Niterói cobrava fiéis

Pouco antes de ser surpreendido pela Polícia Civil em sua residência, em um condomínio na Barra Olímpica, na Região Sudoeste do Rio, nesta quarta-feira (24), sendo obrigado pela Justiça a usar tornozeleira eletrônica, além de ter as contas bancárias bloqueadas, Luiz Henrique dos Santos Ferreira, o Profeta Santini, publicou um vídeo com o título provocador: “Você acaba de cair na benção da prosperidade”.
Por trás da fachada de líder espiritual, com igreja sediada no Laranjal, em São Gonçalo, a polícia descobriu um esquema criminoso de estelionato, com Santini sendo apontado como líder do grupo.
Na gravação, que foi ao ar há 3 horas, desde a publicação desta reportagem, ele dizia que seus seguidores tinham apenas 15 segundos para agradecer a Deus.
“Enquanto você agradece, vou ler um versículo que traz muita prosperidade. A última vez que li esse versículo, muitas pessoas contaram testemunhos. A benção da prosperidade vai te alcançar”, prometeu, antes de recitar a passagem de Salmos 1:3.
O profeta então orientava seus seguidores a abrir as mãos e declarar a prosperidade em suas vidas. Esse tipo de “profecia” de prosperidade e boas novas é o que Santini, com mais de 1 milhão de seguidores em apenas uma rede social, utiliza para atrair multidões.
Seus vídeos, geralmente acompanhados de testemunhos de curas e milagres, geram uma enxurrada de comentários. Ele também promove seu livro, consolidando sua imagem como líder religioso em plataformas online.
Em uma plataforma online, o Profeta Santini dizia: "Sou líder e fundador da Igreja Casa dos Milagres. Tenho 30 anos, pastoreio desde os 19 anos e vivo hoje uma vida dedicada '100%' para o reino de Deus e pregar o evangelho".
Operação
Através da Operação Blasfêmia, deflagrada pela 76ª DP (Niterói) em parceria com o Ministério Público, também foi determinado o sequestro de bens do religioso. A quadrilha que se passava por pastores, cobrando de fiéis valores entre R$ 20 e R$ 1,5 mil por orações, que prometiam curas e milagres, foi desmantelada. O grupo operava a partir de uma central de telemarketing no Centro de Niterói.
A investigação revelou uma estrutura sofisticada de call center religioso. Contratados através de anúncios em plataformas de vendas online, os atendentes, sem vínculo real com qualquer igreja, se passavam por pastores durante atendimentos via WhatsApp. Eles enviavam áudios gravados com promessas de milagres e curas, condicionando essas bênçãos a transferências bancárias via pix.
Os valores variavam conforme o tipo de oração. Para dar vazão ao alto volume de arrecadações, o grupo utilizava uma rede de contas bancárias registradas em nome de terceiros, dificultando o rastreamento das movimentações financeiras. Os atendentes eram remunerados por comissões proporcionais ao valor arrecadado, e aqueles que não atingiam as metas eram dispensados.
As investigações começaram em fevereiro deste ano, quando a polícia identificou a operação de uma central de atendimento com 42 pessoas realizando atendimentos virtuais. Durante a operação, foram apreendidos 52 celulares, 6 notebooks e 149 cartões pré-pagos de telefonia móvel. A análise do material confirmou a organização coordenada do grupo, que já tinha vítimas espalhadas por todo o país.
R$ 3 milhões em dois anos
Além do aspecto criminal, uma investigação financeira identificou movimentações superiores a R$ 3 milhões ao longo de dois anos. Como resultado, a Justiça decretou o bloqueio de contas bancárias, o sequestro de bens e a imposição de tornozeleira eletrônica a Santini, que, em entrevista à TV Globo, alegou ser vítima de uma “perseguição religiosa”.
Com a denúncia de 23 pessoas, as investigações continuam com o objetivo de identificar novas vítimas e possíveis outros membros da organização criminosa. A quadrilha também é investigada por crimes como corrupção de menores, lavagem de dinheiro e crime contra a economia popular.


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