Política
Decreto que suspende leilão da Cedae é aprovado pela Alerj
Publicada às 16h42. Atualizada às 19h04.
Por 35 votos favoráveis, 24 contrários e duas abstenções, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou em discussão única, nesta quinta-feira (29), o Projeto de Decreto Legislativo 57/21, do presidente da Casa, deputado André Ceciliano (PT), para suspender a realização do leilão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), previsto para esta sexta-feira (30).
A medida revoga o decreto 47.422/20, do governador em exercício, Cláudio Castro, que autorizou a abertura do processo de licitação dos serviços de saneamento no estado. A medida vai ser promulgada pelo presidente da Alerj e publicada no Diário Oficial nos próximos dias.
A votação aconteceu de forma semipresencial e os deputados puderam votar tanto no plenário do Palácio Tiradentes quanto de forma virtual. As galerias públicas foram abertas com número limitado de pessoas, respeitando as medidas de segurança devido à pandemia do coronavírus, e foram ocupadas por servidores da Cedae. O líder do governo, deputado Márcio Pacheco (PSC), solicitou a verificação de voto, o que fez com que a votação fosse nominal.
De acordo com o texto, o leilão só poderá acontecer após a prorrogação do Regime de Recuperação Fiscal - acordo homologado em 2017 entre o Estado do Rio e o Governo Federal para a suspensão temporária do pagamento de dívidas com a União.
“É preciso que fique claro que este projeto não é contra a venda de parte da Cedae, conforme modelagem aprovada. O que ele estabelece é que a concessão só seja feita após a assinatura da RRF, tal qual assinado em 2017, fazendo valer o que está estabelecido por direito, por escrito”, justificou o autor da proposta.
A venda das ações da Cedae foi posta como uma contrapartida do Estado no acordo, que deveria ter sido renovado por mais três anos em setembro de 2020. Em janeiro deste ano, o Ministério da Economia, por meio da Lei Complementar Federal 178/21, criou um novo programa de ajuste fiscal para os estados, sugerindo que a renovação do acordo com o Rio seja feita sob novos termos, que preveem o congelamento de salários por quase dez anos.
A votação do projeto foi marcada pela polarização entre os parlamentares favoráveis e contrários ao projeto, e o resultado se manteve incerto até a contagem dos últimos votos. O presidente da Comissão de Tributação da Alerj, deputado Luiz Paulo (Cidadania), votou favorável à proposta, lembrando que a Cedae tem um lucro anual de R$ 1 bilhão - dinheiro que não tem retornado à população.
“O governo atual paralisou todas as obras de saneamento da comunidade da Rocinha, cancelou uma licitação de R$ 26 milhões, deixando aquela população imensa a ver navios. E por que ele fez isso? Porque está sempre sonhando com a concessão da Cedae à iniciativa privada”, comentou o parlamentar.
Já o deputado Alexandre Freitas (Novo) votou contra a medida por não considerá-la um instrumento adequado para garantir ao Estado a renovação do Regime de Recuperação Fiscal. “A verdade é que o Estado não tem a capacidade mínima de investir; e a Cedae não investe nem 1% do seu lucro. A ineficiência é algo inerente à empresa pública”, opinou.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa, deputado Gustavo Schmidt (PSL), que votou favoravelmente à medida, fez críticas à gestão das empresas privadas. “Os moldes do edital do leilão são completamente equivocados, com dezenas de itens que não temos conhecimento de sua total realidade. Hoje, nós temos diversos serviços de transporte privatizados; como não conseguimos ver o resultado final disso?”, indagou. “Temos visto, desde os anos 2000, vários países reestatizando os serviços de saneamento. Por que o Rio de Janeiro iria na contramão do mundo?”, complementou o parlamentar.
Críticas
A Firjan, que é uma organização privada e sem fins lucrativos, emitiu uma nota oficial sobre a concessão da Cedae. E disse que "em pleno ano de 2021, no segundo estado do país em termos econômicos, cinco milhões e seiscentas mil pessoas vivem no esgoto, sem saneamento básico".
Segundo a diretoria, no ritmo atual de investimentos em saneamento da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, seriam necessários no mínimo 140 anos para universalizar a coleta e tratamento de esgotos.
"Isso é imoral. É inaceitável. São essas as razões que levaram a Diretoria da Firjan a defender e apoiar, desde o início, o processo de concessão dos serviços de coleta e tratamento de esgotos e de distribuição de águas para a iniciativa privada. Essa é a única solução real e concreta para resolver essa enorme dívida social, que afeta exatamente a parcela mais pobre da população de nosso estado", finaliza.
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