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    Coçar os olhos pode levar à cegueira: entenda o avanço do ceratocone

    Doença tem levado milhares de brasileiros à fila de transplante

    Publicado 21/07/2025 às 10:50 | Autor: Enfoco
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    O avanço da doença está relacionado a fatores ambientais e comportamentais
    O avanço da doença está relacionado a fatores ambientais e comportamentais |  Foto: Canva

    Uma doença silenciosa e progressiva está se tornando uma verdadeira epidemia no Brasil. O ceratocone, condição que afina, enfraquece e deforma a córnea ocular, tem levado milhares de brasileiros à fila de transplante de córnea. Entre 2015 e 2025, o número de pacientes em estágio crítico cresceu 276%, enquanto a população brasileira aumentou apenas 7,6% no mesmo período, alerta o Instituto Penido Burnier, com base em dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

    O ceratocone é uma condição que altera o formato da córnea, a lente externa dos olhos, fazendo com que ela adote o formato de um cone, prejudicando gravemente a visão.

    Procura por transplantes dispara

    Ainda de acordo com o levantamento do instituto, entre janeiro e março de 2015, foram realizados 3.031 transplantes de córnea, com uma fila de espera de 10.048 pacientes. Já no mesmo período de 2025, 35.651 brasileiros buscaram pela cirurgia, sendo que apenas 3.959 conseguiram realizar o transplante.

    Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, apenas entre janeiro e abril de 2025 foram realizados 542 diagnósticos da doença, frente a 160 no mesmo período de 2024. O estado lidera o ranking nacional de transplantes de córnea, respondendo por 35% das cirurgias realizadas no país.

    Por que o ceratocone está aumentando?

    De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o avanço da doença está relacionado a fatores ambientais e comportamentais. O aquecimento global e o aumento da poluição têm agravado quadros alérgicos, e a coceira nos olhos, principal fator de risco, está diretamente ligada ao desenvolvimento do ceratocone.

    Embora possa ter origem genética, trata-se de uma condição multifatorial, que geralmente surge na puberdade ou adolescência, mas também pode se manifestar na vida adulta. Entre os principais fatores de risco, destacam-se:

    > Predisposição a doenças alérgicas como rinite, asma e urticária;

    > Síndrome de Down, devido ao hábito de coçar os olhos com frequência;

    > Olho seco severo, que causa desconforto e estimula o atrito ocular.

    São Paulo se destaca pela técnica e agilidade

    O número elevado de cirurgias em São Paulo não está ligado apenas à sua população. O estado é referência na técnica de transplante lamelar, que substitui apenas a parte danificada da córnea, permitindo que uma única doação beneficie duas pessoas. A técnica também proporciona recuperação mais rápida e menor risco de rejeição. Por isso, muitos pacientes de outras regiões procuram atendimento no interior paulista, onde a espera costuma ser menor.

    Atenção aos sintomas: diagnóstico precoce faz a diferença

    O ceratocone pode ser confundido com astigmatismo nos estágios iniciais. Segundo Queiroz Neto, a tomografia da córnea é o exame mais eficaz para detectar precocemente a doença. Entre os sintomas mais comuns, estão:

    • Visão embaçada e distorcida
    • Troca frequente de óculos
    • Coceira e irritação nos olhos
    • Aumento progressivo da miopia e do astigmatismo
    • Sensibilidade à luz e visão de halos noturnos
    • Visão dupla ou múltiplas imagens
    • Dificuldade para dirigir à noite
    • Incômodo com lentes de contato comuns

    Tratamentos

    Nos casos iniciais, o tratamento pode ser feito com óculos e colírios antialérgicos. À medida que o ceratocone avança, são recomendadas lentes rígidas especiais, que ajudam a aplanar o cone e melhorar a qualidade da visão.

    Crosslink: o único tratamento capaz de interromper o avanço

    O crosslink é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva que utiliza luz ultravioleta e riboflavina (vitamina B2) para fortalecer a córnea, triplicando sua resistência. O procedimento é contraindicando para pacientes com glaucoma ou córneas muito finas (menos de 400 micras), mas tem mostrado ótimos resultados em crianças, que respondem melhor ao tratamento.

    Alternativas para evitar o transplante

    Nos casos mais avançados, outras opções podem ajudar a preservar a visão:

    Anel intraestromal: inserido entre as camadas da córnea, aplana a deformidade e facilita o uso de lentes;

    Lente escleral: indicada para quem não se adapta às lentes rígidas, é apoiada na parte branca do olho (esclera), oferecendo maior conforto.

    Segundo o oftalmologista, crianças que coçam os olhos com frequência devem passar por avaliação especializada, já que o ceratocone pode ser mais agressivo na infância, mas também responde melhor ao tratamento nesse estágio.

    O avanço silencioso do ceratocone exige atenção redobrada, principalmente entre os jovens. A prevenção começa com o simples hábito de não coçar os olhos, e o diagnóstico precoce é a chave para preservar a visão.

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