Diálogo
Demissões no Itaú e o custo do silêncio nas relações de trabalho
Sindicato denuncia ausência de feedback anterior às dispensas

A segunda semana de setembro começou com cerca de mil trabalhadores do Itaú Unibanco surpreendidos por uma onda de demissões que atingiu setores estratégicos como o Centro Tecnológico (CT), CEIC e Faria Lima. A justificativa oficial: baixa aderência ao home office, identificada após seis meses de monitoramento digital, segundo justificou a o banco.
No entanto, a instituição não informou se qualquer feedback foi dado antes da dispensa. Nenhuma advertência, nenhum convite para diálogo. A decisão, de acordo com o Sindicato dos Bancários, foi unilateral, ignorando qualquer tentativa de negociação e deixando para trás um rastro de insatisfação e insegurança.
Esse episódio nos leva a uma reflexão necessária: qual é o papel do feedback no ambiente de trabalho, especialmente em tempos de transformação digital e trabalho remoto?
Feedback: muito além da produtividade
Atuo com gestão de pessoas há mais de dez anos e posso garantir que o feedback vai muito além de uma ferramente para manutenção de produtividade da empresa. Estamos falando de uma troca para o crescimento profissional e melhor entendimento de quem é o colaborador que representa a sua equipe.
Feedback não é apenas uma prática de gestão, é um instrumento essencial de desenvolvimento humano e profissional. Ele ajuda empresas a corrigirem rotas, trabalhadores a melhorarem sua performance e líderes a construírem relações de confiança.
Quando uma empresa renomada, como o Itaú, com lucro superior a R$ 22,6 bilhões no último semestre opta por cortar empregos sem ao menos oferecer uma oportunidade de diálogo, a mensagem transmitida é clara: os resultados financeiros estão acima das pessoas.
E a consequência pode ser devastadora. Clima organizacional fragilizado, reputação arranhada e equipes desmotivadas são apenas alguns dos efeitos colaterais de decisões sem transparência.
O que fica para as empresas e para os trabalhadores?
> Para as empresas: investir em uma cultura de feedback contínuo não é custo, é estratégia. Funcionários bem informados e apoiados tendem a apresentar melhores resultados, reduzir erros e criar ambientes mais colaborativos. Não estamos falando aqui apenas de remuneração e benefícios.
Costumo dizer que a equipe reflete a energia do gestor.
> Para os trabalhadores: buscar constantemente canais de comunicação e exigir clareza sobre expectativas e metas é fundamental. O diálogo é uma via de mão dupla, mas precisa existir antes de qualquer ruptura. Negligenciar-se ao feedback é trabalhar sobre um clima de incerteza e angustia.
Reflexão final
Num cenário de avanços tecnológicos e lucros recordes, demissões sem aviso prévio soam como retrocesso, sobretudo em instituições que garantem investir em dialogo, inclusão e igualdade de direitos. Se a inovação não vier acompanhada de gestão humana e empática, corremos o risco de transformar o ambiente corporativo em um espaço frio e impessoal, onde o silêncio custa caro, para todos. Hoje para quem sai, amanhã para quem fica.


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