Estratégias
Niterói acelera diversificação econômica para reduzir dependência do petróleo
Prefeitura aposta em novos polos produtivos

Apesar de perder participação no PIB nacional em 2023 devido à queda na extração de petróleo, conforme mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em pesquisa divulgada neste mês de dezembro, Niterói revela já se movimentar para garantir um futuro econômico mais diversificado e sustentável.
Medidas estratégicas têm como objetivo gerar mais empregos, fortalecer a capacitação profissional e reduzir justamente a dependência dos royalties, criando novos polos produtivos e atraindo investimentos.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a retração apontada no valor do PIB do município não reflete necessariamente uma crise na atividade econômica local. Também não indica uma redução drástica no volume físico de produção nas fronteiras marítimas. O cálculo do Valor Adicionado Bruto (VAB) da extração de petróleo e gás é influenciado por três variáveis principais:
1. O volume físico produzido;
2. A cotação internacional do barril de petróleo;
3. A taxa de câmbio média do período.
No período analisado, o efeito contábil observado deve-se, preponderantemente, à variação cambial (apreciação do real frente ao dólar) e às oscilações do preço internacional da commodity. Como a produção é precificada em moeda estrangeira, uma desvalorização do dólar em relação ao real reduz o valor nominal da produção quando convertido para a moeda nacional, diminuindo o montante final do PIB, mesmo que a operação nas plataformas mantenha sua estabilidade produtiva.
Ainda de acordo com a Firjan, é fundamental ressaltar que essa oscilação no PIB do petróleo tem um efeito limitado sobre a dinâmica da economia real da cidade, uma vez que a extração ocorre em alto-mar (offshore).
O principal canal de transmissão dessa atividade para o município se dá através das receitas governamentais (Royalties e Participações Especiais). Portanto, o desafio para Niterói permanece centrado na gestão eficiente desses recursos e na diversificação de sua matriz econômica, para que a cidade seja menos dependente das volatilidades exógenas de câmbio e commodities que afetam o cálculo do seu PIB.
Apostas
A grande aposta do município da Região Metropolitana do Rio para o futuro é a diversificação econômica. Tudo porque a cidade não quer mais depender apenas da indústria extrativa do petróleo.
Por isso, além da economia do mar, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Seden) revela que tem investido em diversos setores urbanos, como startups e tecnologia, setor automotivo, transporte, segurança privada e eletrônica, educacional, hotelaria, cultura, gastronomia, beleza e estética, vestuário, saúde e construção civil.
Esses segmentos representam a espinha dorsal da economia de serviços da cidade, responsáveis por grande parte dos empregos locais e por boa fatia do ISS municipal.
Segundo a pasta, cada categoria é apoiada por meio de capacitação, crédito produtivo, desburocratização e incentivos para novos empreendimentos.
Carro-chefe

O Niterói Empreendedora está entre as iniciativas de destaque para estimular o empreendedorismo na cidade. O programa municipal oferece crédito a juros zero, com carência e prazos estendidos, para micro e pequenas empresas, startups e até permissionários de bancas de jornal.
O financiamento, segundo a Seden, não é voltado apenas para cobrir dívidas, mas sim para modernizar os negócios e aumentar sua capacidade produtiva.
Capacitação profissional tem sido prioridade em áreas estratégicas da cidade
Com o objetivo de aumentar a competitividade local e preparar a cidade para novos desafios, a capacitação profissional tem sido uma prioridade em áreas estratégicas, como indústria naval, pesca e tecnologia.
A cidade oferece cursos especializados em soldagem, caldeiraria, pintura naval e segurança do trabalho, entre outros, para atender à demanda da indústria naval, um setor ainda importante para a economia local, apesar das flutuações do mercado. As vagas costumam ser divulgadas nas redes sociais.
Ainda de acordo com a pasta, a Seden vem conduzindo um ciclo contínuo de capacitação profissional, preparando trabalhadores e empresas para um mercado que, embora tenha oscilado nos últimos anos, permanece estratégico para a cidade e para o Leste Fluminense.
Mais de 7,5 mil carteiras assinadas
Em 2024, Niterói teve o melhor ciclo de geração de empregos formais da última década, com um saldo de mais de 7,5 mil vagas criadas, revela a prefeitura. De acordo com a administração municipal, a cidade ficou entre os maiores geradores de emprego do estado, destacando-se em setores como serviços, comércio, construção civil e economia do mar.
Segundo a prefeitura, os resultados mostram que o município já experimenta uma transição real rumo a uma matriz econômica mais diversificada, menos dependente da indústria extrativa.
Outras ações
No campo da infraestrutura econômica, a cidade tem direcionado esforços para destravar projetos estruturantes capazes de reposicionar Niterói no mapa da economia do mar. A agenda de dragagem do Canal de São Lourenço é um exemplo emblemático: a profundidade adequada é condição indispensável para a circulação de embarcações, a competitividade dos estaleiros, a retomada da indústria naval e a atração de novos serviços portuários, logísticos e offshore.
Essa dragagem, associada à reorganização dos ativos públicos na frente marítima, vem sendo tratada como uma política de desenvolvimento econômico, não apenas uma obra técnica.
Terminal Pesqueiro
Outro eixo de infraestrutura é a revitalização do Terminal Pesqueiro de Niterói, que promete reposicionar a cidade como um polo de recepção, processamento e comercialização do pescado, inserindo tecnologia, qualidade sanitária, ordenamento produtivo e melhor logística para toda a cadeia. Na visão da prefeitura, isso abre caminho para investimentos privados em beneficiamento, armazenagem frigorificada, transporte, gastronomia e turismo náutico.
'Cara nova' atrai investimentos

No ambiente urbano, a revitalização do Centro de Niterói faz parte de uma estratégia mais ampla de recuperação econômica. A Seden vem conduzindo ações para ativar o mercado imobiliário comercial, atrair redes de hotelaria e desenvolver um fundo imobiliário capaz de transformar áreas subutilizadas em novos empreendimentos de serviços, hospedagem, cultura e economia criativa.
Agenda econômica
A estratégia do Município para reduzir a dependência do petróleo parte do entendimento que por já ter uma base econômica diversificada, a cidade precisa de políticas públicas que organize esses setores, amplie competitividade e crie novos polos de dinamismo.
Por isso, o município estruturou um conjunto de setores prioritários que refletem tanto vocações históricas quanto tendências contemporâneas de desenvolvimento.
No eixo da economia do mar, conforme a prefeitura, a cidade seguirá priorizando a cadeia da pesca, os serviços portuários e logísticos e a reativação da indústria naval, especialmente no entorno do Canal de São Lourenço, como pilares estruturantes de longo prazo. A revitalização do Terminal Pesqueiro e a retomada da mão de obra qualificada para os estaleiros são elementos decisivos dessa agenda econômica.
Ranking do IBGE
Com o Rio de Janeiro (capital) no pódio da economia nacional, 25 cidades concentraram mais de um terço da riqueza do país em 2023, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no último dia 19.
A capital fluminense aparece em segundo lugar ao lado de São Paulo e Brasília, nesta ordem, no topo do ranking dos municípios que mais geraram riqueza no Brasil. Maricá surge em 4º lugar e Niterói em 14º lugar.
De acordo com a publicação PIB dos Municípios 2022-2023, apenas 25 municípios responderam por 34,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2023.
O bom desempenho do setor de serviços ajudou as capitais a ampliar sua fatia na economia. São Paulo liderou o avanço, alcançando 9,7% do PIB nacional, enquanto Rio de Janeiro registrou crescimento de 0,1 ponto percentual, assim como Brasília e Porto Alegre.
Por outro lado, o estudo acende um alerta para o estado do Rio: Maricá, Niterói e Saquarema estão entre as cidades que mais perderam participação no PIB, em grande parte por causa da retração na extração de petróleo.
Ainda assim, o setor segue decisivo em outro indicador: as seis cidades com maior PIB per capita do país estão ligadas à atividade petrolífera.
“É curioso observar que os municípios no topo dessa lista estão ligados ao petróleo mesmo num contexto desfavorável a essa commodity”, afirmou Luiz Antonio do Nascimento de Sá, analista do IBGE.
As 10 cidades mais ricas do país
1º: São Paulo (SP)
2º: Rio de Janeiro (RJ)
3º: Brasília (DF)
4º Maricá (RJ)
5º: Belo Horizonte (MG)
6º: Manaus (AM)
7º: Curitiba (PR)
8º: Osasco (SP)
9º: Porto Alegre (RS)
10º: Guarulhos (SP)

Ezequiel Manhães
Redator
Jornalista com experiência em hard news e produção audiovisual, tendo como foco reportagens factuais, especiais e conteúdos multimídia. Atua com rapidez, comprometimento e precisão na apuração, tendo como destaques coberturas de temas como política, economia, cidades, segurança pública e comportamento.

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