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Fim do mistério: homem do cartaz com camisinha suja fala com o ENFOCO
Vítima conta que perseguição começou em 2019
A vítima dos cartazes espalhados por Niterói e pela Zona Sul do Rio de Janeiro foi encontrada pelo ENFOCO e deu a sua versão dos fatos. O homem, que terá a sua identidade preservada, disse que a divulgação de sua foto e uma camisinha em postes são resultado de uma perseguição ''sem razão concreta'', o que tem causado "profundo constrangimento". Segundo ele, as colagens são uma tentativa de ridicularizá-lo.
Os cartazes, que mostram a imagem do homem, morador de Niterói, alfinetada ao centro por uma camisinha suja, foram espalhados no fim de dezembro de 2024, em bairros como Ingá, Centro e Icaraí, além de Copacabana e Centro do Rio. Apesar de o caso ter ganhado maior visibilidade recentemente, a situação já havia ocorrido em 2023, ano em que a vítima registrou boletim de ocorrência por injúria.
Segundo a vítima, o autor das colagens é um homem que ele conheceu em uma residência estudantil da Universidade Federal Fluminense (UFF), entre 2016 e 2017. Os conflitos teriam iniciado em 2019, quando o suposto autor moveu processos contra ele e outros moradores, alegando motivos que a vítima classificou como "absurdos".
“Ele foi ao Ministério Público e a uma série de órgãos ligados à Justiça buscando indenizações, acusando muitas pessoas. Aí você fala, ‘mas o quê?’. Eram coisas absurdas. Ele pedia R$ 19 mil e pouco para cada um. Só que lá, a gente era todo mundo pobre e ninguém tinha condições de pagar isso. Então era muito absurdo mesmo. Umas 30 pessoas sofreram esse processo dos autos. Ele faz isso por perseguição e sempre por coisas muito abstratas, motivos esdrúxulos’’, relatou.
Segundo a vítima, entre as acusações estava a de que o rapaz estaria ''tirando o sono'' do suposto autor. Em junho de 2023, antes das exposições dos cartazes, o autor também teria movido um processo contra a vítima, acusando-o de falsidade ideológica.
Ele foi ao Ministério Público me denunciar, dizendo que fraudei a minha entrada na Uerj. Só que assim, isso é um documento público, de um concurso que eu passei para o Mestrado em primeiro lugar e foi em ampla concorrência. Ele falou que eu fraudei para entrar por cota. E detalhe, eu fiz o meu mestrado na UFF e sequer fiz matrícula na Uerj. Então ele faz um trabalho de investigação por conta própria. Ele cisma com as pessoas e faz isso.
A reportagem do ENFOCO contou mais de 20 processos por danos morais e injúria envolvendo o nome do suposto autor dos cartazes.
Exposição incluiu esposa da vítima
O conflito tomou novos contornos em novembro de 2023, quando o tal homem incluiu fotos da esposa da vítima nos cartazes.
“Ele espalha foto minha e da minha companheira. Agora, ele voltou a fazer isso. Ele coloca foto dela segurando um livro meu. Minha companheira é muito tranquila e me dá muita força, eu que fico desesperado. Dessa vez, novamente, fiquei muito abalado. Ela não tem nenhuma ligação com isso e nunca viu esse menino, não o conhece", afirmou.
Na ocasião, a vítima registrou um boletim de ocorrência na 76ª DP (Centro de Niterói) e apresentou provas à Defensoria Pública e à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Contudo, ele afirma que o caso foi tratado como algo de menor relevância.
Gostaria que o registro fosse enquadrado na injúria racial, mas a delegada não quis. Disse que era algo menor. Assim que ela olhou, foi muito constrangedor para mim. A Justiça não considera isso um crime.
Expansão das colagens
Dois anos após os primeiros ataques, a vítima voltou a recolher suas imagens em postes de Niterói, incluindo áreas próximas ao local onde trabalha.
“Ele sabe onde eu trabalho e estudo. Sabia que eu estava terminando um Mestrado na UFF, dava aulas presenciais no Gragoatá e espalhou as fotos em locais relacionados ao meu trabalho, ao meu local de pesquisa e por onde passam os meus alunos. Também fez isso em Copacabana. Amigos meus que moram lá me mandaram mensagens avisando’’, contou.
O rapaz afirmou que possui gravações do suposto autor colando os cartazes e que deve entregar a um advogado. Segundo ele, o homem circula pela cidade com uma ''bolsa cheia de papéis de xerox'', chegando a colar os cartazes três vezes no mesmo dia, quando os papéis são arrancados por populares.
Camisinhas sujas
A presença de uma camisinha nas colagens gerou especulações. A vítima acredita que o preservativo foi utilizado propositalmente para ridicularizá-lo.
“É triste ler os comentários na internet. Eu evito ao máximo, mas o propósito é esse. Poderia ser qualquer outra coisa, isso não tem razão nenhuma concreta, mas manchar minha imagem. O material dentro parece simular algo, mas não apresenta cheiro. Eu já arranquei várias camisinhas pensando que eram fezes, mas não apresenta cheiro. Ele tem um trabalho estético de causar impressão e sensações em quem vê aquilo’’, afirmou.
Processo parado
Ainda segundo a vítima, o autor seria um stalker conhecido por ações semelhantes envolvendo outras pessoas. Conforme o rapaz, a Justiça não trata o caso da maneira como deveria, devido à falta de sequelas graves, como ferimentos físicos.
''E eles (Defensoria Pública) também o tempo todo pedindo pra que eu cancelasse, porque o (autor) se nega receber a intimação. Ele tem isso, ele bloqueia o telefone da delegacia, ele não comparece e aí agora meu caso foi para uma outra instância, e eles pediram novamente para eu assinar. Eu falei que não ia assinar, eles me deram documento e fica por isso mesmo. Como não houve agressão física, ninguém morreu, então para justiça, isso é leve''.
Por fim, a vítima afirma que o caso trata-se de uma perseguição unilateral, visto que nenhuma das investidas foi retrucada. ''Você não vê fotos dele coladas por aí. O que que eu fiz? O que materialmente tem? Então é uma perseguição unilateral, ou seja, vindo da parte dele, em que não há motivação concreta para isso'', concluiu.
A Polícia Civil foi questionada sobre o caso, mas, até o momento, não se pronunciou.
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