'Terrorismo'
Rota do medo: rodoviários apontam trechos perigosos em Niterói e SG
Sindicato revela alta de traumas nos profissionais

Após a morte de um passageiro de 76 anos, dentro de um ônibus na Rodovia Niterói-Manilha (BR-101), o trecho voltou a ser considerado como o mais perigoso pelos rodoviários, especialmente nos acessos ao Jardim Catarina e ao Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Mas os profissionais também apontam como áreas de risco, em Niterói, o Complexo da Palmeira e Riodades (Fonseca), Grota do Surucucu (São Francisco) e Sapê (Pendotiba). Ambas as cidades ficam na Região Metropolitana do Rio.
Já nas linhas intermunicipais, a vulnerabilidade se repete na Avenida Brasil e nas Linhas Vermelha e Amarela, onde ônibus circulam cercados por territórios controlados pelo crime em plena capital fluminense. As informações são do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac).
O Sintronac revelou ao ENFOCO que a cada ano, uma média de 23,7% dos atendimentos médicos a rodoviários é por traumas psicológicos ou neurológicos causados por episódios de violência, como assaltos, tiroteios e ameaças de traficantes.
Entre abril de 2023 e o mesmo período de 2024, 218 motoristas e cobradores do Leste Fluminense pediram demissão, e 80% (152) mudaram de profissão para escapar do medo diário nos coletivos, com a ampla maioria migrando para o transporte por aplicativo.
Tiroteio e morte
A última terça-feira (2) foi marcada por tragédia, quando o idoso José dos Santos Fernandes, de 76 anos, foi baleado e morto dentro de um ônibus na BR-101, altura do Jardim Catarina, em São Gonçalo. Ele estava a caminho de casa, em Magé, na Baixada Fluminense, após participar de um café da manhã com parentes. Mas nunca conseguiu voltar.
No confronto entre policiais militares e traficantes, uma passageira de transporte por aplicativo também foi baleada na perna. Ela foi internada em um hospital particular de Niterói, mas não corre risco de morte.
O cenário sangrento escancara a rotina de risco enfrentada por quem dirige ou depende do transporte público em vias que cortam comunidades dominadas pelo tráfico na Região Metropolitana do Rio.

Rubens dos Santos Oliveira, presidente do Sintronac, afirma que a categoria não está mais disposta a se arriscar sem medidas concretas. E destaca, com preocupação, a nova tática de bandidos em atirar contra a população para impedir o avanço da polícia.
“O Sintronac enviou, nos últimos anos, mais de 100 ofícios aos órgãos de Segurança, solicitando reforço nas ações das polícias no transporte coletivo. Apresentamos várias propostas, como um modelo de policiamento parecido com o Segurança Presente nos coletivos, fim do uso do dinheiro em espécie nos ônibus para coibir os assaltos e, agora, com a tática terrorista dos marginais em atirar na população para impedir operações policiais em suas áreas de domínio, é fundamental que as Forças de Segurança atuem de forma a preservar, acima de tudo, a vida da população.”
Para o sindicato, uma das medidas urgentes seria o bloqueio de vias durante operações policiais.
Ninguém é obrigado a arriscar a vida no exercício de sua profissão
Os departamentos Médico e Jurídico da entidade, todos os anos, recebem dezenas de motoristas e cobradores em sofrimento físico e psicológico. Muitos desistem e migram para os aplicativos de transporte.
O presidente do Sintronac lembra que a crise da segurança vai além da atuação policial:
“Ela envolve um conjunto de ações, que tirem das mãos dos bandidos sua principal ‘força de trabalho’: os jovens. Mas, para chegarmos a isso, toda sociedade deve estar comprometida com esse projeto. O problema é que não vemos vontade nesse sentido, pois muitos lucram com a criminalidade e com o caos social.”
Monitoramento

Todos os 10 mil ônibus que circulam na Região Metropolitana estão equipados com sistema de monitoramento por GPS e com câmeras de vídeo, de acordo com o Semove, responsável por liderar sindicatos e empresas rodoviárias.
A Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio afirma que as imagens são analisadas por equipes internas e ficam à disposição das autoridades de segurança.
"Algumas empresas também contam com centros de monitoramento da frota em tempo real. Além dos investimentos em tecnologia, a bilhetagem eletrônica está presente em 100% da frota e contribui para a redução da presença de dinheiro dentro dos coletivos", enfatiza.
O órgão lamentou o falecimento do Seu José dos Santos, em São Gonçalo, e pontuou que o caso reforça a necessidade de ampliar medidas de segurança para a proteção de passageiros e rodoviários que utilizam diariamente a malha viária da Região Metropolitana do Rio.
Prejuízos
Para ajudar no trabalho policial, os motoristas são orientados a fazer o registro de boletim de ocorrência em todos os casos de assalto. Os dados são registrados também em uma ferramenta - o Safe (Sistema de Acompanhamento da Frota em Emergência).
A plataforma foi criada pela Federação para reunir informações como características dos assaltantes, pontos de embarque e desembarque e coletar imagens internas captadas pelo circuito de vídeo dos ônibus.
Todo o material recebido fica à disposição da Polícia. A tecnologia é integrada ao Instituto de Segurança Pública (ISP), do Governo do Estado.
O órgão destaca que cada ônibus atacado precisa ser retirado de circulação para reparos, como a substituição de vidros, reduzindo a frota disponível e afetando diretamente os passageiros.
"A Semove segue à disposição das autoridades de segurança e pede a colaboração da população na identificação dos criminosos, solicitando que informações sejam encaminhadas ao Disque Denúncia (2253-1177), inclusive de forma anônima pelo WhatsApp", finaliza a nota.


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