Ansiedade pode agravar hipertensão, revela estudo

Uma pesquisa conduzida no Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, investiga os impactos da ansiedade sobre pacientes com hipertensão arterial resistente. O estudo, coordenado pelo cardiologista e pesquisador Ronaldo Gismondi, revela que pacientes com ansiedade crônica apresentam maior dificuldade para controlar a hipertensão, sobretudo quando também convivem com a depressão.

Desde o início dos anos 2000, o cardiologista se dedica ao tema, motivado tanto pela alta incidência da doença no Brasil quanto por uma experiência pessoal com a própria avó, que sofria com picos de pressão relacionados ao estado emocional.

“É uma doença muito comum, que afeta milhares de brasileiros. E oferece uma oportunidade importante de pesquisa, especialmente por sua relação com fatores emocionais, como a ansiedade”, afirma Gismondi.

A investigação científica tem como foco pacientes com quadros de hipertensão considerados de alta complexidade. São casos em que, mesmo com o uso de múltiplos medicamentos, o controle da pressão arterial se mostra ineficaz. Em muitos desses pacientes, há presença de lesões em órgãos vitais, como coração, rins e cérebro.

Como é feito o estudo?

O estudo é realizado no ambulatório de clínica médica do Huap e adota uma abordagem multidisciplinar. Participam da iniciativa profissionais de farmácia, enfermagem e nutrição. Também está em desenvolvimento um aplicativo que auxilia os pacientes no processo de educação em saúde e autocuidado.

“Buscamos entender como fatores como ansiedade, uso de medicamentos psiquiátricos e o estado emocional influenciam o controle da hipertensão”, explica o cardiologista.

De acordo com Gismondi, situações de estresse e preocupação ativam o sistema nervoso simpático, que libera adrenalina e outras catecolaminas, provocando aumento da frequência cardíaca, da força de contração do coração e a constrição dos vasos sanguíneos, o que, por sua vez, eleva a pressão arterial.

Mesmo com tratamento adequado, quem sofre com esses transtornos tende a ter maior suscetibilidade ao descontrole da pressão

Hipertensão e a depressão

O médico ressalta ainda que a depressão é um conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares, e que a presença simultânea dos dois quadros em um mesmo paciente exige uma abordagem terapêutica integrada, que envolva não apenas ajustes nos medicamentos anti-hipertensivos, mas também suporte para saúde mental.

“Quando identificamos esse perfil de pacientes, passamos a avaliar se o melhor caminho é ajustar a medicação ou associar intervenções que atuem diretamente na melhora do humor”, completa Gismondi.

A pesquisa contribui diretamente com o aprimoramento do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), ao oferecer subsídios para uma abordagem mais eficaz e personalizada, sobretudo para pacientes que apresentam transtornos emocionais. “Compreender como a saúde mental afeta o controle da hipertensão pode levar a estratégias mais eficientes e melhorar a qualidade de vida dos pacientes atendidos pelo SUS”, conclui o especialista.