Mobilidade
Redução de ônibus em Niterói afeta rotina de passageiros
Usuários relataram demora para conseguir pegar ônibus
Usuários de ônibus já sentem os efeitos do racionamento de viagens em Niterói. O consórcio Transoceânico prepara um corte de 15% da grade de horários de todas as suas linhas. O Transnit também limita a circulação de alguns veículos. A prefeitura, portanto, se limita a dizer que não aprova a medida.
Nesta segunda-feira (25) a escritora Isis Pereira, 20, ficou o triplo do tempo no ponto esperando por um coletivo da linha 41, viação João Brasil (Venda da Cruz x Centro), que faz o trajeto pela Avenida Professor João Brasil. Ela mora na Engenhoca, na Zona Norte da cidade.
"[Levei] quarenta minutos pra conseguir ir da metade da João Brasil pro final. Eu vou ter que sair de casa meia hora antes, tentar pegar o ônibus de 5h50", reclamou.
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Isis trabalha em uma companhia farmacêutica em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Para chegar até lá, precisa pegar o ônibus às 6h. Hoje, ela quase chegou atrasada.
"É o único ônibus que as pessoas da João Brasil têm pra ir pra Alameda São Boaventura. Se eu perder a van que passa 6h35 na Alameda, eu tenho que pegar dois ônibus e chego atrasadíssima. Todos que entravam no ônibus hoje estavam reclamando com o motorista. É um incômodo pra muita gente que depende da linha", disse.
Segundo ela, normalmente o mesmo ônibus circula em vários horários. Mas o cenário hoje foi diferente.
"Os horários eram de 5h40, 5h50 e pouco, 6h e pouca. Intervalo mais ou menos de 10/15 minutos. Eu quase perdi a van que passa 6h35 na Alameda, e eu estava no ponto desde 6h. Quarenta minutos de intervalo fazem diferença pra quem trabalha", criticou.
Desde a última semana, empresas de ônibus já vinham ameaçando uma espécie de redução, segundo anunciou o ENFOCO.
Na prática, segundo usuários, não é o que acontece. O professor Gerald Victor disse em rede social que não viu fiscais da prefeitura no Terminal Rodoviário João Goulart nesta segunda-feira (25).
"Cheguei no terminal rodoviário às 5h05 da manhã e não vi nenhum fiscal. E já me informei que o ônibus que passava em São Domingos às 4h30 da manhã, não irá passar mais. O primeiro ônibus sairá as 5h10 da manhã. Como farei para chegar em Icaraí, onde pego um ônibus para Central, se a única empresa de ônibus viação Araçatuba, linha 47, não atende mais os moradores de São Domingos? A prefeitura deveria liberar outras linhas a fazer o trajeto", indagou.
Dona Maria Lúcia, de 63 anos, mora no Barreto há mais de 30 anos. Para ir na casa da filha, como faz todos os dias, pega o ônibus da linha 66 a partir da Rua General Castrioto, por volta das 6h30. Hoje ela conseguiu pegar o ônibus às 6h50.
Mas por conta da demora para conseguir pegar um ônibus da mesma linha, conta ela, terá que recorrer ao ônibus da linha 42, na volta para casa.
"Os ônibus já demoravam muito, agora vai ficar pior. Eu ainda tenho a opção de poder pegar o 42. Mas quem não tem, como fica? Não sei como minha filha que trabalha em Icaraí vai fazer. Na verdade, ela terá que fazer o trajeto a pé até o bairro da Venda da Cruz, onde pode pegar o ônibus da linha 61 viação Brasília para poder chegar em Icaraí. Ela mora na rua Luiz Palmier, no mesmo bairro", contou.
Ainda no Barreto, quem precisa pegar os ônibus da linha 42 também reclama da demora antes mesmo dos consórcios decidirem reduzir os horários. A atendente de loja Aline Mesquita, de 33 anos, ficou esperando o transporte por uma hora nesta segunda.
"Não é só a linha 66. A linha 42 também está escassa desde o início da pandemia. Estamos sofrendo com essa questão dos ônibus. Eles já estavam reduzidos há muito tempo. De noite há poucos ônibus circulando pelas ruas aqui do bairro. Eu liguei para a empresa para saber o que estava acontecendo, fiquei sabendo que mais de 100 funcionários foram mandados embora. É triste, mas nós também estamos sofrendo com a falta de ônibus", disse.
Muitas pessoas ainda não sabem que as linhas de ônibus terão os horários reduzidos. O estudante de medicina Diogo Santiago, por exemplo, se surpreendeu com o cenário. Ele trabalha como freelancer em uma clínica em Icaraí. E diz que não sabe como vai fazer para voltar para casa.
"Eu só estou sabendo agora. Como vou fazer para voltar? Eu pego o ônibus da linha 66 para ir para o trabalho e para voltar para casa. Comecei no trabalho tem pouco tempo", contou.
A Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade, procurada nesta segunda-feira (25), ainda não se pronunciou sobre as novas queixas de usuários do transporte público. Já o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio (Setrerj) informa que, "diante do congelamento da tarifa há três anos e o reajuste do óleo diesel em 180% desde o último aumento, as empresas, apesar do esforço para atender a população, não têm mais condições de manter a operação das linhas conforme a determinação da Prefeitura".
Por meio de nota o Setrerj ressalta que os consórcios operadores ainda aguardam a adoção de medidas urgentes do poder público, "que está ciente da necessidade de reequilibrar e recuperar o sistema municipal de ônibus". O órgão destacou que outras cidades têm desenvolvido ações emergenciais em apoio ao transporte público, como a concessão de subsídios nas cidades do Rio e de São Paulo.
Na última quarta-feira (20) as empresas de ônibus de Niterói, além da Prefeitura, foram denunciadas pelo Sindicato dos Rodoviários de Niterói e Arraial do Cabo (Sintronac) junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e ao Ministério Público do Estado (MPRJ), após denúncias sobre a retirada dos transportes que circulavam na madrugada no Terminal Rodoviário João Goulart, os chamados ‘serenos’.
O presidente do Sintronac, Rubens dos Santos Oliveira, afirma que a ausência dos ônibus, além de afetar a população, também afeta os rodoviários, que estão sem meios de transporte para chegar em seus locais de trabalho no horário do primeiro turno.
"Eles são obrigados a usar seus próprios veículos ou se organizar em caronas com amigos. É lamentável a total falta de sensibilidade, tanto das empresas, quanto do poder público, com um meio de transporte essencial para a população, pois, se uma pessoa passar mal de madrugada, não terá acesso a um hospital. Isso sem contar os trabalhadores que saem muito cedo de casa para locais distantes", disse Rubens na ocasião.
Procurada, a Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade, informou que durante os períodos de férias escolares, os consórcios são autorizados a reduzirem a frota em até 15%, tratando-se de um procedimento de rotina nesta época do ano. Tirando essa exceção, as empresas não estão autorizadas a reduzir a quantidade de ônibus em nenhum horário.
A Subsecretaria Municipal de Transportes e Trânsito (SSTT) notificou os consórcios Transnit e Transoceânico em relação a retirada de frotas e diminuição das linhas. Em caso de não cumprimento das demandas notificadas, a multa prevista em contrato dr R$ 1.300. A SSTT ressaltou que a fiscalização é realizada em diversos horários e locais sem agendamento prévio.
A Prefeitura complementou que o preço do diesel subiu 188%, mas tem feito esforço para não repassar esse aumento para a população. O órgão completou que está contratando um estudo de reequilíbrio financeiro do sistema, o que irá definir os custos operacionais e a tarifa técnica das linhas operantes.
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