IML
Famílias denunciam falta de transparência após megaoperação
Mais de 120 mortos aguardam identificação

O silêncio do Instituto Médico Legal (IML) do Rio tem sido a principal angústia de dezenas de famílias que aguardam há dias a liberação dos corpos das vítimas da Operação Contenção, realizada no início da semana em comunidades da capital e da Baixada Fluminense. Nesta quinta-feira (30), parentes relataram a demora no processo de identificação e a ausência de informações sobre quando poderão enterrar seus mortos.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o IML está dedicado exclusivamente ao trabalho de identificação das vítimas, 121 pessoas morreram, entre elas quatro policiais. O atendimento aos familiares foi transferido para um posto do Detran instalado ao lado do instituto, devido ao grande número de corpos encaminhados.
Entre os que aguardavam notícias estava o trabalhador de serviços gerais Samuel Peçanha, pai de Michel Mendes Peçanha, de 14 anos. Morador de Queimados, na Baixada, ele disse que o filho foi visto pela última vez no Complexo da Penha, após participar de um baile funk.
“Faz dois dias que eu estou procurando alguma informação. Disseram que iam ligar, mas ninguém liga. Quero pelo menos o direito de enterrar meu filho”, afirmou.
A espera também tem sido marcada pela incerteza para Lívia de Oliveira, que tenta localizar o corpo do marido, Douglas de Oliveira. “Dizem que ele ainda não foi identificado, que é preciso esperar. É agoniante, ninguém consegue dormir”, lamentou.
Em outro caso, os pais de Yago Ravel, de 19 anos, só puderam reconhecer o corpo do filho após a intervenção de deputados que foram ao local na quarta-feira (29). O jovem foi encontrado decapitado. “Meu filho foi espancado e executado. Eu tive que assinar o atestado de óbito sem poder vê-lo”, protestou o pai, Alex Rosário da Costa.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, a expectativa é que todas as vítimas sejam identificadas até o fim de semana. Pelo menos cem corpos já foram reconhecidos, mas os nomes ainda não foram divulgados.
Dificuldades no sepultamento

Além da espera, muitas famílias enfrentam dificuldades financeiras para realizar o enterro. O sepultamento particular custa em média R$ 4 mil, enquanto o serviço gratuito oferecido pela prefeitura é feito em caixão fechado e sem velório. Para atender a demanda, a Defensoria Pública instalou um posto de atendimento no IML e tem orientado parentes sobre a solicitação de gratuidade ou tarifa social.
“Não é necessária ação judicial. Fazemos o contato direto com as funerárias. Mas criticamos as condições do serviço gratuito, não consideramos digna uma despedida sem velório”, afirmou o defensor público André Castro.
A operação mais letal em 15 anos
Deflagrada pelas polícias Civil e Militar, a Operação Contenção teve como objetivo conter o avanço da facção Comando Vermelho e cumprir 280 mandados judiciais. A ação mobilizou 2,5 mil agentes e terminou com 113 prisões, apreensão de 118 armas e uma tonelada de drogas.
Os confrontos espalharam pânico por várias regiões do Rio. Houve bloqueios em vias expressas, fechamento de escolas e unidades de saúde. Com 121 mortos, é considerada a operação mais letal do estado em 15 anos.

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