Conexões
Relações perigosas: quando o crime organizado chega aos salões do poder
Alerta para a prisão de parlamentares envolvidos com facções

A prisão do vereador Marcos Aquino, do Republicanos, nesta sexta-feira (14), e do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, do MDB, em setembro, reforça e alerta para a relação entre parlamentares e organizações criminosas no estado do Rio de Janeiro, após uma série de operações recentes que expõem, segundo investigadores, a tentativa de facções e grupos armados de penetrar em estruturas do Estado para influenciar decisões públicas e ampliar o controle territorial em diferentes regiões.
Nos últimos anos, autoridades federais e estaduais têm apontado o avanço de esquemas que envolvem desde troca de favores e proteção política até uso institucional para facilitar atividades ilícitas, especialmente em áreas dominadas por facções como o Comando Vermelho (CV). Para especialistas, esse fenômeno cria uma “zona cinzenta” entre crime e política que fragiliza instituições e dificulta o combate ao tráfico e à violência.
"Essa relação entre política e criminalidade organizada é fundamental para que a criminalidade seja organizada. Quando isso atinge o sistema político partidário, nós estamos num terreno muito perigoso, porque não só constitui uma rede de proteção para essas atividades criminosas, mas também acabam, por vezes, dirigindo ações do poder público em favor desses grupos, ou seja, não é só uma mera tolerância essas atividades criminosas que se constituem nessa relação, mas também a criação de condições mais favoráveis para esse desenvolvimento”, explica Daniel Hirata, sociologo da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Segurança Pública.
Baixada Fluminense
O episódio mais recente ocorreu nesta sexta-feira (14), durante a nova fase da Operação Contenção, realizada pelas polícias Civil e Militar em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Oito criminosos foram presos, duas pistolas e carga de drogas apreendidas.
Segundo a Polícia Civil, o vereador Marcos Aquino (Republicanos) foi preso após ser encontrado com uma arma de fogo registrada em nome de outra pessoa, além de medicamentos e uma placa oficial. Ele foi conduzido à delegacia durante as diligências que miram um núcleo ativo do Comando Vermelho na região da Bacia do Éden e do Castelinho.
A operação, que está em andamento há 11 meses, ainda busca o irmão do parlamentar, Luiz Aquino, que ainda não foi encontrado.
Investigadores ainda não atribuíram vínculo direto do vereador com facções. No entanto, sua prisão durante uma ofensiva especificamente voltada ao CV reforçou a preocupação sobre a vulnerabilidade do ambiente político a pressões e infiltrações de grupos criminosos.
TH Joias
O caso do ex-deputado estadual e joalheiro conhecido como TH Joias, também soma elementos ao debate.
Em inquérito recente, a Polícia Federal indiciou o ex-parlamentar e outras 17 pessoas por suposto envolvimento com estruturas que beneficiariam facções como o CV e o TCP, no Rio de Janeiro.
Segundo o relatório enviado ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), TH Joias é investigado por ao menos nove crimes, entre eles lavagem de dinheiro, associação criminosa e colaboração com o tráfico. Entre os indiciados estão policiais militares da ativa, um ex-PM, um policial federal e traficantes que atuariam como operadores do esquema.
Relações perigosas
O caso evidencia, na avaliação de analistas, como a atuação do crime organizado transborda da esfera territorial e se projeta sobre redes políticas, econômicas e institucionais.
Para especialistas em segurança pública, os episódios envolvendo Marcos Aquino, TH Joias e outros recentes demonstram que grupos criminosos buscam influenciar eleições locais e regionais, acessar informações privilegiadas, proteger áreas de interesse, facilitar negócios ilícitos, e expandir bases políticas por meio de intimidação ou cooptação.
Segundo eles, a infiltração nas estruturas públicas se tornou uma das frentes mais preocupantes da criminalidade organizada no estado,
“Que sejam em níveis mais baixos, por exemplo, o aviso de operações policiais ou possibilidades de atuação criminal associadas a licitações, a desvio de verbas, a financiamento de campanha, enfim, essa é uma relação que realmente é das mais perigosas que pode ocorrer no que diz respeito às redes criminais”, concluiu Hirata.

Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!




