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Barbeiro que causa Doença de Chagas é achado em Niterói: saiba o que fazer
Vídeo de biólogo viralizou, e prefeitura acompanhou caso

Um barbeiro infectado com o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas, foi encontrado no bairro de Itacoatiara, na Região Oceânica de Niterói. O caso foi divulgado pelo professor Felippe Santolia, 25 anos, farmacêutico, biólogo e mestrando pela Fiocruz, que publicou vídeos de alerta nas redes sociais.
Segundo ele, dois insetos - sendo um da espécie Panstrongylus geniculatus (não contaminado), e outro da espécie Triatoma vitticeps (contaminado) foram localizados dentro do seu escritório em datas diferentes: o primeiro em outubro de 2024; e o segundo, infectado, em fevereiro de 2025.
O material foi encaminhado ao Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos (LNIRTT), da Fiocruz, em 18 de março deste ano, que confirmou o resultado positivo em 30 de maio, após análise feita pelo Laboratório de Parasitologia Integrativa e Paleoparasitologia (LPIP).
“Geralmente, esses insetos não invadem com frequência as residências. Quando acontece, pode estar ligado à degradação do habitat natural, como queimadas, que forçam o animal a buscar refúgio em outros locais”, explicou Santolia.

Esse tipo de ocorrência não deve ser motivo de pânico e não é indicativo de nenhum tipo de epidemia, mas é fundamental que o cidadão saiba como agir ao encontrar um exemplar.
Como identificar e o que fazer
Felippe enfatiza que não fala em nome de nenhuma instituição, tampouco da Fiocruz. Mas com base em seus conhecimentos acadêmicos, alerta que a identificação do barbeiro exige cautela, já que há espécies semelhantes que não transmitem a doença.
"A identificação desse tipo de inseto deve ser feita com extremo cuidado, pois existem várias espécies que se assemelham ao barbeiro, mas não o são, o que pode gerar pânico desnecessário. No meu caso, a identificação foi feita a olho nu, utilizando meu conhecimento como Farmacêutico, Biólogo e aluno de Mestrado na Fiocruz na área da Doença de Chagas. Além disso, compartilhei a análise com colegas da área".
Procurada, a Fiocruz diz que para ajudar a população a reconhecer e lidar corretamente com esses vetores, disponibiliza um site com diversas informações sobre o inseto (clique aqui).
Em caso de encontro com o inseto, o correto é acionar o Centro de Zoonoses. Em Niterói, os contatos são (21) 96955-0746 e (21) 99639-4251.
“Não se deve manusear o inseto livremente. O ideal é colocá-lo em um recipiente, de preferência com luvas. E nunca esmagar, pois, se estiver infectado, pode liberar fluidos com o parasita”, reforçou o pesquisador Felippe Santolia.
Posicionamento do município
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) acompanhou o caso. O órgão destaca que espécies de barbeiros são comuns na Mata Atlântica, presente em mais de 50% do território de Niterói, e que há anos não há registros de transmissão da doença na cidade.
A espécie T. vitticeps, embora possa entrar em residências, é considerada silvestre e não está entre as mais relevantes para a transmissão.
"A recomendação do Ministério da Saúde para a situação do município de Niterói é a chamada vigilância passiva, ou seja, atender à demanda quando procurado pelo munícipe. Esse acompanhamento é feito rotineiramente. Quando munícipes relatam a presença desses animais, identificamos o hábito alimentar ou a espécie (se barbeiro, que se alimenta de sangue, ou outro tipo de percevejo que se alimenta de outros insetos ou de plantas), é realizada a visita domiciliar quando necessário".
O CCZ orienta que, ao encontrar um inseto suspeito, ele seja capturado em recipiente fechado e levado ao órgão, que fica na Rua Coronel Miranda, 18, Ponta D’Areia.
Análise da Fiocruz

O Instituto Oswaldo Cruz confirmou ao ENFOCO a identificação do barbeiro infectado e destacou que a espécie pode ocasionalmente invadir casas próximas a áreas de mata. Segundo o órgão, a melhor prevenção é instalar telas em portas e janelas.
A Fiocruz também alerta que a forma mais comum de transmissão no Brasil atualmente é a via oral, pelo consumo de alimentos contaminados, como açaí e caldo de cana. A transmissão direta ocorre quando as fezes do barbeiro infectado entram em contato com feridas na pele ou mucosas.
A doença
A Doença de Chagas atinge entre seis e sete milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS, e cerca de um milhão no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Possui duas fases:
- Aguda: pode apresentar febre, dores no corpo e inchaço no local da picada, mas também pode ser assintomática.
- Crônica: pode causar insuficiência cardíaca ou problemas digestivos.
"Logo após a infecção, os pacientes podem apresentar sintomas como febre, mal-estar, inchaço no rosto ou nas pernas, entre outros. Esse período, chamado de fase aguda da doença, também pode ser assintomático. Depois disso, as pessoas costumam passar anos sem manifestações clínicas, e muitos vivem a vida inteira sem complicações, apesar da infecção pelo T. cruzi. No entanto, cerca de um terço dos pacientes desenvolve problemas cardíacos devido à doença de Chagas crônica, e aproximadamente um em cada dez apresenta complicações digestivas, neurológicas ou mistas", explica a Fiocruz.
A identificação de insetos vetores e a detecção de possível infecção pelo T. cruzi são fundamentais para orientar as ações de vigilância em saúde e a adoção de políticas públicas de controle do vetor e da doença. No Brasil, são conhecidas 64 espécies de triatomíneos, e todas podem transmitir o T. cruzi.
Ao encontrar um inseto suspeito que se pareça com um barbeiro, é preciso ter cuidado. É importante adotar medidas para evitar o contato com o inseto e a contaminação de alimentos.
Serviço
Em Niterói, casos suspeitos devem ser comunicados ao Centro de Controle de Zoonoses:
Rua Coronel Miranda, 18 – Ponta D’Areia
Contatos: (21) 99639-4251 | WhatsApp (21) 96955-0746
E-mail: [email protected]


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