São Gonçalo

'Não podemos nos calar': a violência contra a mulher em números

São mais de 2 mil casos no segundo município mais populoso

Violência doméstica: aumento de registros em São Gonçalo
Violência doméstica: aumento de registros em São Gonçalo |  Foto: Marcelo Eugênio
 

O município de São Gonçalo registrou 2.481 casos de violência contra a mulher no primeiro semestre deste ano, sendo 1.431 registrados na Sala Lilás e 1.050 no Centro Especial de Orientação à Mulher (Ceom). No mesmo período, o Centro de Trauma do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), localizado no Colubandê, prestou socorro a 77 mulheres, algumas menores, vítimas de agressão, estupro ou tentativa de homicídio por arma branca ou de fogo. As vítimas também foram até o Pronto Socorro Central de São Gonçalo, no Zé Garoto, local que registrou 182 boletins de atendimento.

Foram 2.481 casos de violência no primeiro semestre deste ano.
  

"Não podemos nos calar diante desses absurdos que estão acontecendo. Praticamente todo dia ouvimos casos de mulheres que foram violentadas, abusadas e mortas", disse a subsecretária de Políticas Públicas para as Mulheres de São Gonçalo, Ana Cristina da Silva.

 Apesar dos números, a Prefeitura informou que há menos mulheres vítimas de violência doméstica atendidas em unidades de saúde do município entre os meses de janeiro e julho de 2022 comparando com o ano passado: são 609 neste ano contra 1.669 em 2021.

Atendimento


O projeto Sala Lilás, localizado no Instituto Médico Legal de Tribobó, tem como objetivo atender vítimas de violência doméstica e familiar, cuidando das mulheres vítimas de violência física e sexual. As mulheres são orientadas a ir até o local após prestarem queixas em delegacias e realizarem o exame de corpo de delito. 

Segundo a Prefeitura de São Gonçalo, os atendimentos mais comuns na Sala Lilás são de violência física contra mulheres maiores de 18 anos e abuso sexual em crianças e adolescentes. A equipe do local é formada por assistentes sociais, enfermeiras e psicólogas, que acolhem vítimas, e, dependendo de cada caso, encaminham para acompanhamento na rede de serviços que compõem o Sistema de Garantia de Direitos dos municípios de São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito, atendidos pelo IML de Tribobó.

Os atendimentos mais comuns na Sala Lilás são de violência física contra mulheres maiores de 18 anos e abuso sexual em crianças e adolescentes.
  

Já no Ceom, o atendimento inicia com a triagem, em que são identificados quais os serviços técnicos que a vítima necessita. Posteriormente, há o acompanhamento necessário pelos profissionais da área jurídica, psicológica e assistencial.

Sete chamados por hora

O mês de Agosto, também conhecido como Agosto Lilás, reacende o alerta para o fim da violência contra a mulher, um crime que vem em crescimento nos primeiros meses deste ano. Na última semana de julho, quatro casos foram registrados, sendo três no mesmo dia. 

Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), 57 mulheres foram vítimas de feminicídio de janeiro a junho de 2022 no estado, período do último levantamento divulgado. Um aumento de 15,8% em relação ao mesmo período do ano passado, que registrou 48 casos. 

Um aumento de 15,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
  

No primeiro semestre deste ano, o ISP aponta que foram registradas 143 tentativas de feminicídio, o que corresponde a 10,5% a mais do que o primeiro semestre de 2021. 

De acordo com a Polícia Militar, o serviço 190 anotou 34.050 acionamentos para casos de violência contra a mulher entre junho e janeiro de 2022. Em média, são sete ocorrências por hora. 

O levantamento, realizado pela Subsecretaria de Comando e Controle da PM,apontou que este é o segundo motivo na lista de ligações, estando atrás de ligações sobre perturbação de sossego (mais de 41 mil acionamentos) e na frente do crime de ameaça (mais de 20 mil solicitações).

Procurada, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Estado do Rio informou que, somente neste ano, 8.137 mulheres solicitaram assistência nos Centros Integrados/Especializados de Atendimento à Mulher (CIAM/CEAM). O número representa quase o total do ano passado inteiro, quando foram atendidas 9.684 mulheres.

“Os relatos que mais recebemos são os de agressões físicas. Muitas mulheres só procuram uma delegacia quando sofrem a violência física. Nós sempre informamos para as vítimas que é fundamental a denúncia de qualquer violência, pois ela tem início, muitas vezes, verbalmente, patrimonialmente, e sempre evolui para uma violência física ou um feminicídio", disse a subsecretária de Política para Mulheres, Aline Forasteiro.

Não se cale, denuncie. Aline Forasteiro, Subsecretária de Política para Mulheres do Rio
  

Inimigo Íntimo

A secretaria completou que os agressores, na maioria dos casos, são namorados ou maridos das vítimas. O órgão orienta que as mulheres entrem em contato com o Ciam/Ceam por telefone ou presencialmente em um dos dez centros de atendimento, localizados nas cidades de Japeri, Itaguaí, Mendes, Miguel Pereira, Natividade, Nova Iguaçu, Queimados, Rio de Janeiro, Tanguá e Três Rios. Ainda há o 180. 

O acolhimento é realizado por psicólogos, assistentes sociais e advogados, encaminhando em seguida os casos para a Casa Abrigo Lar da Mulher e/ou a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam). 

O Governo do Rio anunciou a criação de um “Botão do Pânico”, dentro do aplicativo da Polícia Militar, que servirá como uma medida de combate e prevenção ao feminicídio.

"A violência contra a mulher é o principal motivo de acionamento emergencial da PM. Por isso, iremos lançar um botão do pânico para as vítimas de violência em nosso aplicativo. Os PMs poderão se deslocar diretamente para o endereço onde está a vítima", esclareceu a tenente-coronel da Patrulha Maria da Penha, Cláudia Moraes.

Casos recentes

Ysabelli de Souza, de apenas 18 anos, foi encontrada morta e sem roupas na estrada dos Cajueiros, em Maricá, na última terça-feira (26). Ela ficou desaparecida por uma semana. A Polícia Civil ainda investiga a autoria e a motivação do crime.

Sarah Jersey Nazareth, de 24 anos, foi morta também na terça-feira dentro de um apartamento em Santa Teresa, na Zona Central do Rio. Seu ex-companheiro é o principal suspeito do crime e foi preso por agentes do Projeto Segurança Presente. Queven tem mais de 50 passagens pela polícia e confessou o crime 

Ainda na terça-feira (26), Leticia Dias Santana, de 27 anos, foi morta  a facadas dentro da Associação de Moradores de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói. Assim como no caso de Sarah, o principal suspeito, Flávio Fonseca, é seu ex-companheiro. De acordo com testemunhas, o crime aconteceu enquanto o homem cuidava dos filhos do casal. Flávio foi preso na última sexta-feira (29).

A vendedora Maria do Carmo Ferreira Carvalho, de 56 anos, foi encontrada morta a 27 facadas no Morro dos Prazeres, na Zona Norte do Rio. O crime aconteceu no último domingo (24) e o suspeito ainda está foragido. O corpo da mulher foi levado para São Luís, no Maranhão, de onde era natural.

Por causa do aumento do números de violência contra a mulher em São Gonçalo e no estado do Rio em si, a equipe de reportagem do Enfoco conversou com a delegada Carla Tavares, responsável pela Deam de São Gonçalo, sobre como funciona o trabalho na delegacia. As orientações estão no terceiro episódio da reportagem especial que sai neste domingo (7). 

Nesta quarta-feira, a terceira reportagem da série ensinará o passo a passo para denúncia

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