Denúncia

PMs são acusados de invadir casas e fazer churrasco no Salgueiro

Denúncia feita por moradores está sendo apurada pela Defensoria

A Polícia Militar ocupa o Complexo do Salgueiro desde a última quarta-feira (15)
A Polícia Militar ocupa o Complexo do Salgueiro desde a última quarta-feira (15) |  Foto: Arquivo/Lucas Alvarenga
 

Invasão de casas e até churrasco no terraço de uma residência. São acusações feitas por moradores contra policiais militares que ocupam o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, desde a semana passada. No conjunto de favelas, há registros de mortes e diversos confrontos

A Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio disse ao ENFOCO, nesta segunda-feira (20), que recebeu as denúncias de que policiais invadiram residências e que vai apurar o caso.

"Em breve se reunirá com moradores e lideranças locais para obter detalhes sobre o caso, apurar a ocorrência de outras violações e prestar assistência às vítimas", esclareceu em nota. 

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A Polícia Militar justifica que intensificou o patrulhamento no conjunto de comunidades, já que no feriado de Corpus Christi um criminoso da localidade pretendia realizar um evento não autorizado.

Para coibir a movimentação de grupos criminosos, o Batalhão de Polícia Militar de São Gonçalo (7º BPM) afirma que mantém na região uma ocupação com reforço de unidades subordinadas ao 4º Comando de Policiamento de Área (CPA) em pontos estratégicos por tempo indeterminado.

 

Segundo o líder comunitário e presidente da Associação de Moradores do Salgueiro, Jefferson Souza, o vídeo que mostra policiais realizando o churrasco no terraço de uma casa foi gravado na região do Campo do Esperança, na noite da última quarta-feira (15).

"Foi na noite de quarta para quinta. Houve relatos deles comprarem carne, acamparem neste local, e fazer churrasco. É um local onde embaixo é uma casa alugada e em cima um terraço. Eles se apropriaram da parte de cima para fazer esse churrasco. Os moradores ali perto filmaram", disse.

Registro gravado por um morador em outro dia mostra um veículo blindado parado em uma rua do Salgueiro. Em um certo momento, um dos policiais que estava próximo ao veículo atravessa a via e entra numa casa.

"Entrando na casa dos moradores sem mandado. Venho colhendo tudo pelas denúncias com vídeos os quais os moradores vêm colocando nos grupos, apurando os fatos e realmente vendo que tudo é real", disse Jefferson Souza.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que 'nenhuma das unidades da Corporação envolvidas na ocupação recebeu comunicação relacionada a possível desvio de conduta de policiais que participam da ação'.

Jefferson diz, que, além do medo dos moradores, há um problema de locomoção quando há grandes operações policiais. Ele aponta que por conta da paralisação dos ônibus, quem mora na localidade tem feito um trajeto de 40 a 50 minutos, entre a região da Palmeira a Itaúna.

"O pai e a mãe de família que saem 4h30 da manhã para trabalhar têm que vir andando da Palmeira até Itaúna. Imagina essa situação? A comunidade já sofre com falta de iluminação até chegar na residência de noite, e muitos moradores estão se deparando com essa situação de PMs estarem entrando dentro de casa sem mandado. O morador fica amedrontado, sem saída, uma situação muito crítica", questiona.

A Polícia Militar disse à reportagem que mantém ao dispor da população seus canais de atendimento para verificar a veracidade dos relatos.

A Corregedoria da PM atende a população por meio do telefone (21) 2725-9098, pelo e-mail [email protected], ou ainda, pelo WhatsApp da Corregedoria (21) 97598-4593.

"Só o morador que está dentro sabe. Com isso tudo o que está acontecendo, o morador quer apagar conversa do celular e acaba até perdendo as provas. Eu entendo a situação. Se o policial pede o telefone, a pessoa dá e pronto. Você não vê o Estado entrando dentro da comunidade com a cultura, com a educação, com a infraestrutura. Não entra assim. Só querem entrar com a força. É uma situação que só quem vive, sabe", lamenta Jefferson.

O Ministério Público do Rio e a Comissão de Direitos Humanos da Alerj ainda não se pronunciaram sobre a situação.

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