Violência
Pré-candidatos falam sobre ações para combater crime organizado
Ao ENFOCO, políticos revelam planos para diminuir a letalidade
Complexo do Alemão, Vila Cruzeiro, Jacarezinho... Todas essas comunidades do Rio de Janeiro foram alvos de grandes operações causando diversas mortes, tanto de suspeitos envolvidos em ações criminosas, quanto de moradores inocentes atingidos por disparos de arma de fogo. A intensidade dos confrontos e o número de óbitos reacenderam o debate sobre a política de segurança do Rio. O ENFOCO procurou nesta sexta-feira (22) os pré-candidatos ao Governo sobre o tema.
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Questionado, o atual governador Cláudio Castro (PL), pré-candidato à reeleição, não respondeu às perguntas da equipe de reportagem. Contudo, o político já demonstrou publicamente ser a favor da política de segurança fortemente armada realizada em diversas operações no estado.
Através de suas redes sociais, Castro comentou que a ação no Alemão nesta quinta-feira (21) e sexta-feira (22), que vitimou 19 pessoas (16 suspeitos, o cabo Bruno de Paula, a cozinheira Letícia Sales e a moradora Solange da Silva), começou depois da polícia ser atacada. O governador lamentou a morte do PM e atacou o concorrente Marcelo Freixo (PSB).
"Vou continuar combatendo o crime com todas as minhas forças. Não vamos recuar na missão de garantir paz e segurança ao povo do nosso estado. Não há lugar onde o estado não entre no Rio. Não vamos tolerar que esses marginais que Freixo defende continuem atacando uma instituição tão importante e que tanto nos orgulha como a PMERJ. Foi Freixo, seu partido e aliados que proibiram nossas polícias de enfrentar esses bandidos em determinadas áreas. O resultado está aí: bandidos mais seguros e fortemente armados. Mas comigo não tem essa. Polícia se faz com inteligência, investimento, força e boa remuneração", publicou.
Nossas forças de segurança foram covardemente atacadas hoje cedo durante uma grande operação no Complexo do Alemão para prender criminosos. Um policial foi morto e outro, baleado. Lamento profundamente a morte do nosso agente e me solidarizo com a família. pic.twitter.com/Vd95nBWoae
— Cláudio Castro (@claudiocastroRJ) July 21, 2022
Ao ENFOCO, Marcelo Freixo (PSB) disse que a atuação policial na gestão de Cláudio Castro (PL) é realizada como uma forma de 'fazer política'. O pré-candidato, que deve ter a companhia do vereador Cesar Maia (PSBD) como vice na chapa, informou que pretende reduzir a criminalidade sem colocar em risco os moradores de comunidades.
Condeno fortemente o uso da polícia para fazer política, como tem feito o atual governador, que herdou o cargo sem estar preparado.
O pedetista ainda completou:
“Sou a favor de operações policiais planejadas e com a polícia bem treinada para combater o crime. Esta é a política de segurança que será adotada e que garante a redução da criminalidade sem colocar os moradores na linha de tiro. Nosso foco é trabalhar muito para virar essa página e fazer o Rio de Janeiro voltar a ser o que era, um estado em que as famílias tenham condições de viver dignamente e em segurança”.
Procurado, o ex-prefeito de Niterói e pré-candidato Rodrigo Neves (PDT), que possui apoio de Eduardo Paes (PSD) ao Governo do Estado, criticou o trabalho de Cláudio Castro (PL) e de Wilson Witzel, seu antecessor, nos últimos anos. Ainda informou que falta inteligência nas operações.
"É inaceitável o que aconteceu no Complexo do Alemão e a falta de perspectivas de governança competente e democrática do Estado. Nos últimos anos, o governo de Witzel/Claudio Castro abandonou o patrulhamento das ruas e passou a priorizar operações com fins eleitoreiros e altos índices de letalidade. O estado do Rio não tem Secretaria de Segurança e muito menos Plano de Segurança Pública com estratégia e inteligência. A população e policiais ficam expostos. O Rio precisa mudar e ter um plano viável para reconstrução de sua economia e sobretudo das condições básicas de cidadania, convívio civilizado e de qualidade de vida da população! É possível, mas é necessário boa gestão e compromisso com o povo que, definitivamente, o atual governo não tem", informou.
O pré-candidato Cyro Garcia (PSTU) defende a descriminalização das drogas para evitar mais mortes em comunidades do Rio. Ele acrescentou que possui um desejo de unir as polícias Militar e Civil como uma força de segurança única. O político ainda contou que irá expulsar policiais envolvidos em crimes e propor uma eleição de delegados.
"Temos que acabar com essa falácia de guerra às drogas e realizarmos uma política de segurança de fato. Primeiramente descriminalizando as drogas, porque droga é um problema de saúde pública e não de segurança pública. E adotar medidas também no tocante a segurança pública: desmilitarização da PM; formação de uma polícia única, civil, com parte dela atuando fardada no patrulhamento ostensivo e outra parte voltada para ações de inteligência, com direito de greve, direito de sindicalização e salários dignos, para neutralizar a corrupção no corpo policial; a expulsão imediata de todos os policiais envolvidos em crimes contra os direitos humanos e crimes de corrupção; eleição de delegados – para que haja uma proximidade entre a polícia e a comunidade em que ela serve, a polícia precisa se impor pelo respeito e não pela intimidação", contou.
Para Eduardo Serra (PCB), a política de segurança de Cláudio Castro (PL) contra as drogas é um discurso para justificar "chacinas" promovidas pelo Estado. O pré-candidato quer extinguir as polícias Civi e Militar e criar uma nova instituição de investigação. Uma guarda civil, desmilitarizada, irá fazer o patrulhamento ostensivo.
Serão extintas as duas polícias atuais e serão criadas duas novas instituições policiais.
"Serão extintas as duas polícias atuais e serão criadas duas novas instituições policiais: uma polícia civil judiciária cidadã, de caráter investigativo, e uma guarda civil para o patrulhamento ostensivo, uniformizada e armada porém desmilitarizada, subordinadas a uma única Secretaria de Segurança Pública", comentou.
Paulo Ganime (Novo) também falou sobre seus planos para diminuir a criminalidade no Rio sem que vidas inocentes sejam perdidas. Ele conta que pretende fazer como em Minas Gerais, com planejamento.
"O Rio de Janeiro nunca teve planejamento. Nós temos que parar de defender bandido e crucificar o policial. É preciso desmantelar o domínio territorial dos grupos criminosos com operações que tenham inteligência, tecnologia e investigação." Ele ainda contou que pretende: "integrar as forças,investir na infraestrutura e no treinamento dos policiais. Segurança pública é muito mais que operação. A polícia precisa estar treinada, com procedimento padrão, e com dignidade e proteção para trabalhar. Além disso, é preciso levar para as áreas dominadas todos os serviços do Estado necessários, como emprego, educação, saúde, cultura, esportes, evitando que os jovens entrem para o crime. Os moradores não podem sofrer mais do que já sofrem, com tiroteios, roubos de rua, tendo sua liberdade cerceada. E os bandidos não podem mais dominar como já dominam. Além disso, combater a lavagem de dinheiro e a corrupção no Estado, operação que financia o crime, com compra de armas, drogas e agentes do estado."
Operações
As operações mais recentes, realizada nesta quinta (21) e sexta (22), terminaram com 19 pessoas mortas no Alemão, Zona Norte do Rio. Segundo a PM, 16 suspeitos morreram, além do cabo Bruno de Paula lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, da cozinheira Letícia Sales e da moradora Solange da Silva. É a terceira mais letal da história do Rio em um intervalo de 14 meses.
Em maio deste ano, uma operação realizada na Vila Cruzeiro, dentro do Complexo da Penha, deixou 23 mortos e foi fortemente criticadas por entidades de defesa dos direitos humanos. Esta é considerada a segunda operação mais letal na história recente do Rio.
O objetivo da ação, segundo a PM, era de prender lideranças criminosas escondidas na comunidade, assim como a ação do Alemão. Na ocasião, a cabeleleira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, morreu após ser atingida por uma bala perdida no local.
No ano passado, também em maio, 28 pessoas morreram no Jacarezinho, na Zona Norte. Foi a operação mais letal da história do Rio.
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